quinta-feira, 24 de julho de 2025

Diálogos aporéticos (10) - Linha do horizonte

George Hoyningen-Huene, Divers, Paris, 1930

- O que está a ver?

- Nada.

- Ah. Está tão concentrado no horizonte.

- O horizonte fascina-me.

- Alguma razão específica para tanto fascínio.

- Sim. O simples facto de ser uma linha.

- A linha do horizonte.

- Claro, a linha do horizonte.

- E o que tem ela de tão fascinante?

- Não sei.

- Não sabe?

- Não. Não consigo ver mais do que a linha.

- E isso é fascinante?

- Nem por isso.

- Não percebo.

- Falta de treino. Talvez falta de imaginação.

- Tornei-me sua inimiga, para me acusar de não saber fantasiar?

- Não se trata de inimizade.

- Então?

- Apenas a constatação de que os seus limites morrem na linha do horizonte.

- E os seus?

- Os meus vão bem para lá dela.

- E o que vê?

- A linha do horizonte.

- Pensava que via para além dela.

- Gostava de ver, mas a linha cega-me.

- Sim, eu já sabia que estava cego.

- Porquê?

- Porque nem a mim me vê.

 

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