quarta-feira, 1 de outubro de 2025

A mulher como problema político

Não é ainda muito claro na Europa, mas já o é bastante nos Estados Unidos. O principal problema político que assola o mundo ocidental e que fornece o combustível para a progressão da direita radical e da extrema-direita é a mulher. Melhor: é o papel da mulher na sociedade. A imigração tem surgido como um factor de arregimentação desses quadrantes políticos. Contudo, para um observador mais atento são os direitos das mulheres que estão a mobilizar muitos votos masculinos – em especial nos eleitores jovens, mas não só – para soluções políticas radicais. Na Europa – talvez com a excepção de Espanha – o problema é mais dissimulado, mas aquilo que está a acontecer nos EUA chegará, mais tarde ou mais cedo, a este lado do Atlântico. A retórica extremista usa a bandeira da luta contra o feminismo, mostrando este como uma deriva radical. O que está, porém, em causa, o que mobiliza tantos homens para a extrema-direita?

Em primeiro lugar, a autonomia sexual das mulheres. Não tenhamos qualquer ilusão sobre o assunto. O facto de os homens não poderem, no campo da sexualidade, dominar e impor a sua vontade às mulheres é um factor perturbante para parte significativa do campo masculino. Um outro factor é a escolarização. As mulheres, actualmente, têm uma mais alta escolarização do que os homens. A importância da formação académica, nas sociedades actuais, é de tal modo grande que está a gerar uma nova clivagem de classe entre pessoas com formação superior – na sua maioria, mulheres – e pessoas sem essa formação. Este é também um factor de ressentimento com muito peso no eleitorado masculino. Por fim, o desaparecimento de empregos, relativamente bem remunerados, que solicitem competências vistas como masculinas, baseadas na força física, criando um problema aos homens que apostaram pouco nos estudos.

Estes três factores – todos eles presentes nas sociedades ocidentais – estão a gerar uma radicalização política de parte dos homens, cuja finalidade é limitar os direitos das mulheres, tentando fazê-las retornar a um estado de dependência, limitando drasticamente a autonomia sexual, profissional e, plausivelmente, académica das mulheres. E isto pode mesmo acontecer, caso as mulheres e as forças democráticas não se mobilizem para enfrentar o problema. Esta deriva antifeminina é um sintoma da decadência do Ocidente. Os eleitores estão mais preocupados em voltar ao século XIX – sonhando com fadas do lar – do que enfrentar os grandes desafios que a revolução tecnológica e a afirmação de potências industriais, políticas e militares extra-ocidentais colocam. Uma fantasia, mas fantasias têm colocado ditadores no poder.

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