Roberto Rossellini começou a filmar Roma, Cidade Aberta em 1944, logo a seguir à expulsão dos alemães da
capital italiana. No centro da intriga está, como um efectivo tributo ao
espírito da época e ao heroísmo dos que se opuseram ao fascismo e ao nazismo, a
resistência italiana e a cruel perseguição dos ocupantes alemães, aliada à
pusilânime colaboração de parte dos italianos. O filme é uma obra central na
definição do que se convencionou chamar, no âmbito do cinema, o neo-realismo
italiano e faz parte do conjunto de filmes de intervenção antinazi, cujo obra
mais conhecida é Casablanca (1942), de
Michael Curtiz.
A trama narrativa do filme põe em jogo o conflito de vida ou
morte entre duas crenças inabaláveis. De um lado encontram-se os que defendem a
superioridade ariana com uma convicção que começava a abrir brechas e do outro
a convicção da justeza e superioridade moral dos resistentes à ocupação. Apesar
do filme pretender ser uma aproximação à vida real das classes populares e ser,
de certa forma, um documentário dessa vida, as personagens centrais não deixam
de ser idealizações do herói, os resistentes, e do vilão, os ocupantes ou os
colaboracionistas, por convicção ou por degradação moral. De um lado a
superioridade moral; do outro a perversidade e a baixeza morais. As personagens
surgem, deste modo, planas, estereotipadas, sem que se dê conta de uma vida
interior complexa, marcada pela dúvida, pela hesitação, pela incerteza.
O filme retrata o modus
operandi tanto da resistência como dos ocupantes alemães, uma espécie de
jogo do gato e do rato. A resistência opera dentro dos bairros populares, mesmo
que os seus dirigentes provenham de outra camada social. É lá que encontra o apoio
e o ambiente propício para se ocultar. Os alemães, por seu turno, exploram a
fraqueza moral daqueles – neste caso de duas mulheres – que, provenientes das
classes populares, anseiam pertencer ao mundo dos ricos, ainda que seja através
de opções morais ignóbeis. A isso aliam uma violência sem limite e sem pruridos
morais.
Para além da questão central, o combate entre ocupantes e
resistência, e de uma visão ideológica sobre as classes sociais, o filme mostra
como na resistência se juntava o Partido Comunista e a Igreja Católica. Os dois
heróis da resistência são um engenheiro comunista e um padre católico. Há uma
clara preocupação de evidenciar e reforçar essa unidade, escondendo tudo o que
separava os dois campos, separação essa que vai ser estruturante na política
italiana do pós-guerra, na qual democratas-cristãos e comunistas se tornam as
grandes forças políticas em Itália durante décadas, mas em lados opostos da
barricada. Apesar das personagens centrais terem sido reduzidas a tipos
idealizados, o filme continua a ser um documento interessante para perceber
aquela época, com os valores políticos e a visão do mundo da altura.
Comunistas e católicos em lados opostos da barricada ?
ResponderEliminarE quando se iam juntar,o que aconteceu ?
As Brigadas Vermelhas,Banieri Rossae, raptam e matam Aldo Moro!
O teórico das Brigadas até aqui a Portugal veio dar conferências...e entrevista grande ao Expresso,essa imprensa isenta
Houve processo,na Itália...estão todos livres e prosperam...
Um grande filme que poderia ter precedido uma experiência única que não chegou a concretizar-se, como a do compromisso histórico.
ResponderEliminarUm abraço
Os grandes partidos que poderiam ter levado a efeito esse compromisso histórico desapareceram. A Democracia-Cristã morreu enredada na corrupção e o Partido Comunista deixou-o de ser, mesmo na versão light que já era a sua.
EliminarAbraço