sábado, 15 de setembro de 2012

Controlar as elites políticas

D. Manuel I

Mas a péssima gestão e os gastos excessivos levaram o país à beira do colapso. D. João II e D. Manuel I, em reinados sem guerra e de abundância extrema, deixaram dívidas. (Teolinda Gersão, A Cidade de Ulisses, p. 49)

No dia em que os portugueses, pela primeira vez desde que o resgate do país pela troika começou, mostraram uma efectiva repulsa pelas políticas adoptadas, seria de questionar o papel das suas elites políticas. A tradição portuguesa - uma longa tradição vinda da monarquia antiga e que, na verdade, nunca foi interrompida - é marcada por dois aspectos essenciais. Por um lado, nos momento onde houve abundância de riqueza, esta foi confiscada por esses elites, confisco que redundou sempre em esbanjamento, segundo o desejo de uma ínfima minoria. Por vezes, caíam algumas migalhas para o resto da população, mas nunca mais do que migalhas e nunca uma política de real desenvolvimento do país e das suas pessoas. Por outro lado, faltando o dinheiro, as elites utilizaram a rapina dos pobres e o pau, por vezes em alternativa, outras vezes em conjunto, para manterem um estatuto que muito raramente mereceram.

Há uma coisa que os portugueses ainda não perceberam, mas que chegou o momento de ser pensada. Não se trata já de substituir um grupo governante por outro, mas de, através da pressão popular e da intervenção cívica, limitar drasticamente o poder das elites políticas. Os movimentos inorgânicos como os de hoje têm um ponto que mereceria atenção: o da rejeição do arbítrio. Em Portugal, a classe política, por culpa dos cidadãos ou do seu desinteresse, tem demasiado poder e teve todas as oportunidades para conduzir o país a onde chegou, para fazer todas as malfeitorias que lhe passou pela cabeça. Chegou a hora de controlar a classe política composta por gente em que a responsabilidade é inversamente proporcional à desmesura do ego. 

4 comentários:

  1. Os portugueses ainda não perceberam que é preciso mudar a politica e não os políticos que passam a vida a apontar "soluções" sem querer sequer enxergar o problema.
    Mesmo assim, hoje já sentimos uma lufada de ar fresco, como que um sinal...

    Abraço

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    1. Ainda não sei se é um sinal de alguma coisa saudável, se apenas o sintoma da profunda doença que nos atingiu. O tempo irá encarregar-se de esclarecer esta dúvida.

      Abraço

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  2. Este Controle da classe política, como lhe chama no seu texto, é o outro lado da maturidade cívica que precisamos inventar, e digo, inventar apenas porque não a temos como hábito. O exercício do poder, em democracias crescidas, deve ser um exercício de cooperação entre os cidadãos/eleitores e os seus representantes políticos. Se nos detivermos nos momentos chave da construção de Portugal saberemos reconhecer que o povo português sabe mobilizar-se mas não consegue manter-se mobilizado, este não assumir é porta escancarada para tiranetes, corruptos, sabujos, insanos. Desta vez deveríamos não nos limitar a entregar o poder, mas seria bom, desta vez, que soubéssemos e quiséssemos não esgotar a participação nos destinos do país no momento da ida às urnas, esta fiscalização a que se refere, é uma aferição do grau de constância ética, de preservação dos valores assumidos, sem este exercício cooperativo do poder, receio que se esteja a provocar uma crise para trocar de par na dança, um pedro por um tózé, se assim for a modinha vai seguir em frente até que o povo morra, com os pés ensanguentados de tanto bailar a mando.
    Boa Noite

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    1. Sim, é outro lado da maturidade cívica. Os cidadão não podem continuar a entregar o poder aos eleitos sem que um controlo seja por eles, cidadãos, levado a efeito. Se não, será como diz, o país continuará entregue a tiranetes. O mais difícil, porém, será o controlo dos poderes locais.

      Bom dia

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