A minha crónica semanal no Jornal Torrejano.
O pior não é sequer a vexata
quaestio do défice. O pior é mesmo a comunidade nacional encontrar-se num
grau de completa degradação cívica. Só assim se pode entender que os
portugueses, para além de episódicas manifestações, aceitem serem governados
por gente absolutamente inverosímil. A degradação tornou-se evidente quando
Durão Barroso decidiu livrar-se dos imensos sarilhos que lhe prometia a
governação em Portugal. A escolha de Santana Lopes foi já a manifestação clara
de um mal incurável.
O extraordinário, porém, é que Santana Lopes, comparado com o que veio
depois, parece um sábio e o mais sensato dos homens políticos. A governação de
Sócrates foi um exercício contínuo de prepotência e de decisões absurdas que,
em vez de atalhar os problemas que já empestavam a atmosfera, tornaram ainda
mais grave a situação que se vivia. Bastam dois exemplos, o célebre Magalhães distribuído gratuitamente sem
que se percebesse para quê e esse exercício tortuoso, embora a vontade seja
chamar-lhe outra coisa, que dá pelo nome de Parcerias Público-Privadas. Os
governos de Sócrates foram das coisas mais perigosas que ocorreram em Portugal.
Por uma questão de sobrevivência do país, Sócrates e aquele grupo que com ele
tomara conta do PS tinham de ser postos fora do poder.
A desgraça, porém, é que a direita não tinha ninguém para substituir
Sócrates. A governação tornou-se, então, o exercício de gente que nunca saiu
verdadeiramente da adolescência. Não pode ser levado a sério um primeiro
ministro que manda os portugueses emigrar ou que, de um dia para o outro, num
país onde os salários são dos mais baixos, decide transferir milhares de
milhões de euros do bolso dos trabalhadores para as entidades patronais, e, instantes
depois, vai para o Pavilhão Atlântico rir e cantar com a Nini dos 15 anos (a
idade da adolescência). Não podem ser levados a sério ministros como o folgazão
Miguel Relvas, o subtil Paulo Portas, que apunhalou o parceiro de coligação em
público, o deslumbrado Vítor Gaspar, a eminência que ainda não acertou uma
previsão, o deslocado Álvaro Santos Pereira, a cigarra moralista do Miguel
Macedo. Seria cansativo falar dos outros.
Portugal deixou de ter, para governar o país, gente sábia,
experimentada na vida, ponderada, gente que perceba a fragilidade e o
sofrimento da população e que procure equilíbrios sensatos. Vive-se com o
sentimento de que se é governado por um bando de rapazolas, perturbados com os
sintomas da adolescência, cuja sabedoria não ultrapassa a de uma cigarra
cantante ou a da Nini dos 15 anos, a tal que vestia de organdi.
O pior é que essa garotagem é composta de muitos "especialistas"; ele há cançonetistas, arrivistas, oportunistas, 'lambretistas', seguidistas, cristas, turistas, teoristas, alquimistas, fundamentalistas, sofistas e de outras especialidades a acabar no sufixo ista, tal como "verbo de encher"...
ResponderEliminarAbraço
Um verbo de encher que vai despejando as pessoas.
EliminarAbraço
Belo trocadilho o seu!
ResponderEliminarQuem sabe se depois de completamente despejadas, as pessoas não se "enchem" e lhe ocupam o palácio!*
*Em sentido figurado, claro.
Bom fim-de-semana
Por falar em palácio, parece que o governo, com as suas políticas, está a encomendar um palácio de inverno. E os palácios de inverno, como se sabe, são muito dados a ocupações.
EliminarAbraço