A minha crónica semanal no Jornal Torrejano.
Há em certos sectores a crença de que apenas nos resta voltar aos
níveis de vida que tínhamos nos anos oitenta do século passado. Esta ideia de
retorno é uma ilusão. Não é possível voltar atrás para uma situação onde nos
encontrávamos e, depois ensinados pela experiência da história, fazermos agora
tudo direito. Para além do tempo não voltar para trás, três coisas impedem a
concretização dessa ilusão.
Esse lugar que existia nos anos oitenta já não existe. O mundo estava
dividido entre dois blocos (a queda do Muro de Berlim dá-se em 89), a
globalização, tomando o padrão actual, era rudimentar e os governos europeus
ainda tinham margem de manobra na gestão das suas moedas e das suas políticas.
Os anos oitenta não serão nunca mais recriáveis. Em segundo lugar, a população portuguesa era
mais nova. A crise demográfica já se anunciava, com a queda abrupta da taxa de
fecundidade (cai de 2,11 filhos/mulher, em 1979, para 1,42, em 1991), mas ainda
não era visível nem socialmente sentida. Também o envelhecimento da população,
devido à queda da referida taxa e do aumento da esperança de vida, não era
socialmente percepcionado como problemático. Por fim, nos anos oitenta, os
portugueses viviam num clima de esperança. Sentiam que a adesão à CEE poderia fazê-los
entrar numa Europa civilizada, instruída e rica. E pelo menos ricos os
portugueses tinham a esperança de virem a ser. Essa esperança que tinha lugar
nos anos oitenta morreu.
Sem o mundo dos anos oitenta, velhos e sem esperança, o que nos resta?
Resta-nos um governo que tem a sua ilusão temporal. Não sonha devolver Portugal
aos anos oitenta nem ao tempo do marcelismo. O governo sonha com o Portugal dos
anos quarenta do século passado, com uma economia de guerra, onde a pobreza de
milhões os obrigará à mais pura e acintosa submissão, à aceitação de qualquer
coisa por quase nada. Uma economia de guerra? Sim, uma economia que resulta não
de um conflito bélico, mas da destruição sistemática do pacto social, da
perseguição dos trabalhadores por conta de outrem, da implosão das empresas e
do esforço de milhares e milhares de empresários, de um sonho fanático de
destruição de tudo o que é vivo. Depois de tudo destruído, haverá então lugar
para a construção de um Portugal novo e moderno, em conformidade com o que vai
nas pobres cabeças dos governantes.
Não há maior infelicidade para um povo do que ser governado por um
grupo de fanáticos que sofre de alucinações. Como retornar aos anos quarenta é
uma pura alucinação, o governo está a preparar uma inominável tragédia.
Boa tarde JCM,
ResponderEliminarSubscrevo inteiramente o seu artigo. Esta gente é medonha, não tem princípios, nem distingue os limites da decência e da mentira, está longe de ter inteireza de carácter.
É capaz de tudo porque nada vale, vai dos oitenta para os oito.
Bom fim de semana
Abraço
Sim, tem toda a razão, gente medonha, e o medonho diz tudo.
EliminarBom fim de semana,
Abraço