A minha crónica semanal no Jornal Torrejano.
No mundo em que vivemos deixou, na verdade, de haver margem para
grandes alternativas políticas. A experiência portuguesa é sintomática.
Governados pelo PS ou pelo PSD-CDS, os portugueses sabem que, para além da
retórica e da propaganda, o que podem esperar de quem ocupe o poder é o mesmo.
A mesma política, os mesmos objectivos e os mesmos resultados. Os portugueses
também sabem outra coisa. Sabem que votar à esquerda do PS, isto é, no PCP e
BE, para além do voto de protesto, de pouco servirá. Pressentem, não sem razão,
que um governo de esquerda, nas condições específicas em que o país e o mundo
vivem, conduziria ao isolamento e a uma situação – mesmo que mais digna
moralmente – económica e social ainda mais depressiva.
Na verdade, aquilo que é o sentimento geral não deixa de ter
fundamento: não há alternativas pois o nosso destino (e isto não tem a ver
apenas com o défice) não está nem estará, nos tempos mais próximos, nas nossas
mãos. No entanto, há uma questão moral que merece ser pensada. Eu sei que
política e moral não são a mesma coisa. Mas, apesar disso, a questão moral terá
sempre de assombrar as práticas políticas da governação.
É provável que Portugal não tenha outra alternativa que não seja
seguir o diktat dos representantes
dos credores (vulgo a troika). São as
consequências desse diktat que é
preciso esclarecer. E estas são simples: um empobrecimento radical da maioria
dos portugueses, a destruição da frágil classe média nacional, o retorno à
emigração, condições de trabalho a roçar a escravatura (piores do que no tempo
de Marcello Caetano), desemprego em massa e sem fim à vista, cuidados de saúde
drasticamente piores e, como consequência, a morte cada vez mais cedo, serviços
de educação cada vez piores e protectores das elites sociais. Estas são as
consequências daquilo que a troika exige
e que toda gente sabia e conhecia.
Mas uma coisa é fazer o que tem de se fazer por não haver alternativa,
outra é fazê-la por gosto e programa ideológico. E este governo – de uma incompetência
atroz, como se verifica pelo falhanço no défice – faz esta política por prazer
fundado na sua ideologia. É isto o que significa dizer que se quer ir além da troika. Esta expressão é uma confissão
da natureza daqueles que nos governam. Ir para além da troika é aumentar sem pudor o conjunto de sofrimentos que caem
sobre os portugueses. Não qualifico sequer a qualidade moral de quem nos
governa e quer ir além das exigências troika.
As pessoas encontrarão por si mesmas os epítetos adequados a esta gente.
Boa noite,
ResponderEliminarO respeito e consideração intelectual que tenho pelo JCM e pelo seu blogue, impedem-me os epítetos que gostaria de proferir.
Concordo em parte com o que escreveu. De facto, estamos sitiados por este diktat troikista e não só.
Mas aindaassim, acredito que uma solução à esquerda será possível, desde que exista a coragem de mudar no partido-chave, ou seja no PS, e fazer acordos com todas as forças que estão interessadas em inverter este descalabro imoral e obsceno.
Tenha um bom fim-de-semana.
Um abraço
Só duas coisas. Não acredito que o PS possa mudar. Ele está comprometido com uma narrativa acerca do mundo e nada há fazer. Em segundo lugar, se por um milagre o PS voltasse à esquerda, um governo de esquerda que não fosse imoral seria imediatamente condenado pelos mercados e Portugal seria isolado. O Brasil pode fazer uma política menos imoral, pois tem recursos para isso e porque está a criar um mercado mais largo. Nós não temos uma coisa bem outra. Enfim, estamos metidos num grande sarilho.
EliminarUm bom fim-de-semana.
Abraço