sábado, 29 de setembro de 2012

O tempo das praças

Edgar Degas - Plaza de la Concordia (1875)

Quando chega o tempo em que as praças se enchem alguma coisa se perdeu. Todas elas foram desenhadas como lugar de concórdia, espaços amplos onde transeuntes despreocupados passeiam, presos na sua solidão. Sim, a praça é o lugar da solidão, o espaço onde a concórdia nasce do estar só de cada um. Quando os homens sentem o chamamento da multidão e ocupam esses lugares de meditação, sabemos que o reino está podre e as vozes têm de romper o amado silêncio para reclamar um módico de justiça, aquele que basta para podermos viver, segundo o modo de cada um, o retiro que nos cabe.

6 comentários:

  1. Agora regressa o tempo da Ágora. Tomem-se as praças, para resgatar o horizonte.

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    1. O tomar a praça é já um sintoma de desespero. Na Ágora, havia diálogo, na praça não. Apenas alguém fala. A praça cheia é já o sintoma de que a Ágora falhou.

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  2. Quando as solidões partilham o clamor dos silêncios, a praça enche-se de vozes.

    Abraço

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    1. É pena que se tenha de chegar aqui, que o mal tivesse crescido desta forma. E continua a crescer...

      Abraço

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  3. Eu gosto do tempo das praças, embora abomine a razão por que lá andamos. O tempo das praças é o tempo daquilo a que os que estão fechados na «sala» chamam Rua. A rua é toda a gente exigindo aos que estão na «sala» que saiam para sempre. Talvez esteja a chegar o tempo das pessoas, o verdadeiro tempo das pessoas, daquelas que são a rua e todas as casas do mundo.

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    1. Não creio que a rua seja um bom local para tratar de coisas sérias. Quando isso aconteceu, a verdade é que a rua que decidia estava assente nos ombros de uma multidão de escravos. Por vezes, a rua torna-se inevitável, como actualmente. Mas isso não é para para delinear o bem, mas apenas para evitar o mal, aquele que se abate sobre as pessoas hoje em dia. O bem pode ter lugar se as pessoas participarem nas instituições, que é o lugar onde o bem ou o mal tomam corpo e crescem. Mesmo assim, não há garantia nenhuma.

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