terça-feira, 15 de novembro de 2022

A persistência da memória (18)

Theodor and Oskar Hofmeister, Gebet, 1910

Talvez a oração seja o exercício de uma reminiscência, o trabalho secreto e silencioso de descer ao fundo de si mesmo, para o encontro com o inominável. Com o decorrer dos anos, os homens foram-se esquecendo de que também há para eles um caminho interior. Tudo é agora pura exterioridade. Não há caminhos senão aqueles que os olhos podem ver e se neles encontram o desconhecido, logo tratam de colocar-lhe um nome, para o domar e, ao domesticá-lo, o poderem dominar. Por vezes, uma súbita nostalgia acomete-os, como se no fundo de si persistisse a memória delida daquilo que não tem nome, nem figura, nem pode ser domado. Então, sentem que lhes falta alguma coisa, que há um caminho a trilhar, mas é já demasiado tarde para o descobrir.

Sem comentários:

Enviar um comentário

Nota: só um membro deste blogue pode publicar um comentário.