quarta-feira, 9 de novembro de 2022

O progresso moral da humanidade (9)

Lee Miller, Charred bones, Buchenwald, Germany, april 1945
O desprezo com que parte da espécie humana trata o mundo circundante e os outros animais não é uma situação de excepção em relação a si mesma. Dois séculos de Luzes, século e meio após a publicação de O que é o Iluminismo, de Immanuel Kant, e todas as boas intenções foram incapazes de evitar os campos de concentração, os fornos crematórios, todo um cortejo de inomináveis sevícias. O choque tremendo da descoberta da natureza dos campos de concentração não parece ser suficiente para evitar que novas edições - por agora em escala menos industrial - venham à luz do dia. O progresso moral da humanidade não tem de enfrentar apenas a maldade que habita o coração dos homens. Tem de enfrentar também aquilo que todo o progresso implica. E aquilo que o progresso implica é o esquecimento das situações vividas, a destruição das memórias reais. O tempo acabará por destruir os traços que horrorizaram as consciências e isso abrirá o caminho para que o horrível surja de novo, mesmo que seja segundo outras aparências. Também o horrível tem mil máscaras.

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