António Saúde, Dia de trovoada, 1906 |
Um brusco
bater de asas,
o uivo distante do
cão.
Universos de barro e pó,
o som
das folhas caídas,
mãos e
musgos,
a
noite estremecida
no negro
trono de rainha.
Desprendia-se
da macieira
um
odor azul,
a
cinza sobre a terra,
a
paisagem de cal.
Na
estrada, passava quem ia,
cobria-se
a casa de pano:
a
seda, o linho,
o
algodão em árido ardil.
Assim
fiavam as fiandeiras,
o
tempo
de
suas mãos desabava,
um brusco
bater de asas,
uma
sombra
ao sol
do meio-dia.
Da
árvore, a folha desce.
Nela, uiva
o cão,
o
grito da tarde
suspende-se,
logo cai.
(1998)
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