Hannah Höch, Self portrait with Raoul Hausman, ca. 1919 |
terça-feira, 31 de janeiro de 2023
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domingo, 29 de janeiro de 2023
Ensaio sobre a luz (97)
Deborah Turbeville, Vera Abrusova, Stroganov Palace, 1996 |
sexta-feira, 27 de janeiro de 2023
Simulacros e simulações (43)
Harold Edgerton, This is Coffee, 1933 |
quarta-feira, 25 de janeiro de 2023
Cardílio (24 sonetos) 2
Vila Cardílio |
Ruínas, ervas, noites deserdadas,
Sonhados sonhos, âncora que a morte
No tempo sempre arvora. Pedras vãs,
Ruas de palha ao tormento abandonadas.
No pó que agora tudo em si recolhe
Há vidros de sol e água, breves nuvens
De ardósia, ervas rasas, velhas lágrimas
Que teus olhos cansados derramaram.
Tudo se desvanece no olvidado
Mundo: razões distintas ou verdades
Falazes. Tudo é pedra, tudo é nada.
Só ficaram murmúrios dos teus gritos
Surpresos pelo sol da madrugada.
Ruínas, sonhos são nunca sonhados.
2007
sábado, 21 de janeiro de 2023
Os professores, mais uma vez
O mal-estar entre os docentes remonta a 2005, ao consulado de Sócrates e Lurdes Rodrigues, onde o governo de então perpetrou um conjunto de ataques à classe e à própria profissão. Vejamos os motivos do descontentamento actual.
Municipalização do ensino. Os professores temem ficar submetidos às burocracias camarárias, que passariam a superintender a educação, sem conhecimento da realidade educativa. Receiam, e muito, que os concursos de docentes se tornem municipais. A classe não confia em concursos de professores sob a alçada dos municípios.
Tempo de serviço não contado para progressão na carreira. Os professores nunca aceitaram que o tempo em que estiveram congelados não fosse contado para a sua progressão na carreira. São mais de seis anos. Os professores não pedem que lhes seja devolvido o dinheiro que foi cortado nos salários, apenas o tempo que trabalharam.
Estatuto da carreira docente. Na verdade, não há uma carreira docente. Um professor começa a carreira e acaba-a a fazer as mesmas coisas. A ideia de carreira foi um truque dos governos para evitar pagar ordenados decentes, tendo em conta a formação e o papel social dos professores, fazendo-os subir uma longa escada. Até 2005, um professor podia chegar ao escalão mais alto, se cumprisse tudo o que estava determinado, ao fim de 26 anos de profissão. Isto é, já próximo dos 50 anos. A partir de Sócrates/Lurdes Rodrigues, é aos 32 anos, embora muitos professores fiquem retidos muitos anos em dois dos escalões intermédios. A maioria não chegará perto do último escalão. Os docentes contestam também o modelo de avaliação docente, que, na opinião de muitos, e não sem razão, é fomentador de grandes injustiças.
Manutenção de muitos milhares de professores fora dos quadros. Apesar de as escolas estarem sempre a necessitar de professores, as vagas para aceder aos quadros abrem com muita parcimónia. Um truque para manter milhares e milhares de professores, os contratados, fora da carreira, o que implica salários ainda menores.
A concepção de escola dominante. Este não será o menor dos problemas. Aquilo que é exigido aos professores é muito mais do que ensinar alunos. Toda a vida escolar se tornou um imenso exercício de burocracia. Reuniões, planos, projectos, monitorizações, avaliações. Os professores gostariam de ensinar as suas disciplinas, mas isso é desvalorizado pelas políticas educativas. Os professores desejam concentrar-se no básico, ensinar alunos, o Ministério de Educação aposta em criar um inferno burocrático nas escolas.
Desde Sócrates e Lurdes Rodrigues que se anda nisto.
António Costa e João Costa não são melhores. O desprezo dos socialistas pelos
professores é total. Um dia estoira.
quinta-feira, 19 de janeiro de 2023
Nocturnos 96
Robert Frank, London, 1952 |
terça-feira, 17 de janeiro de 2023
Cardílio (24 sonetos) 1
Villa Cardílio |
E o rio entre salgueiros se despede
Das noites onde frágeis as mulheres
Ao cansaço do amor graves se entregam.
Os risos entre tílias, luz sonora
Que ilumina a furtiva solidão,
São barcos solitários que no rio,
Entre esquecidas mágoas, se despedem.
Tudo no horizonte já fenece.
No rio levedado abrem-se pássaros
De azul incendiados. Tempo breve,
Que em teu severo andar ruínas ergues,
Das pedras fazes cinzas, e dos dias
Nem a gasta lembrança tão fria resta.
2007
domingo, 15 de janeiro de 2023
Beatitudes (57) O que está consumado
Kurt Hielscher, Salt Warehouses, Lübeck, 1931 |
sexta-feira, 13 de janeiro de 2023
Cadernos do esquecimento 50 A redenção do esquecimento
Frederick Sommer, Taylor, Arizona, 1945 |
quarta-feira, 11 de janeiro de 2023
Meditações melancólicas (91) O parco poder do tempo
Autor não identificado, Moment of execution, February 1, 1968 |
Existem estranhas convicções que, muitas vezes, quem as tem nem dá por elas. Numa resposta a um tweet sobre a execução de dois iranianos, condenados num julgamento, no qual os condenados já o eram antes de serem julgados, alguém dizia: Como é possível acontecerem actos bárbaros em pleno século XXI. Nesta afirmação, aliás trivial, existe a convicção de que com o passar do tempo, os seres humanos vão deixando de ser aquilo que eram no passado e se vão tornando mais cordatos, mais civilizados. Por certo, haverá uma crença ingénua no progresso moral da humanidade. Esta crença pressupõe uma outra. A moralidade terá poder, ao exercer ao longo do tempo uma pedagogia civilizatória, para conter e modificar aquilo que existe de tenebroso nos seres humanos.
Apesar de existirem autores, como Steven Pinker, que argumentam a favor de um progressivo domínio dos anjos bons da nossa natureza, um olhar para o século XX só pode deixar desolado quem quer acreditar no progresso moral dos homens. Talvez o tempo – a passagem dos séculos – tenha pouco poder sobre a nossa natureza básica, onde a disposição para a bondade e o altruísmo convivem com a inclinação para a violência e a maldade pura. O século XXI, onde ainda não existiram grandes manifestações de maldade colectiva como aquelas que surgiram no anterior, não parece, todavia, menos propenso para a barbárie. Assiste-se até ao questionamento de certas práticas de convivência social que se tinham por adquiridas. Por exemplo, tem perdido prestígio a ideia da resolução pacífica e negociada de conflitos sociais e de diferenças de opinião moral e religiosa.
segunda-feira, 9 de janeiro de 2023
Ensaio sobre a luz (96)
Bill Perlmutter, Along the Banks of the Main, Germany, 1955 |
sábado, 7 de janeiro de 2023
Bento XVI, Lula da Silva e guerra na Ucrânia
Lula da Silva. No primeiro dia do novo ano, Lula da Silva tomou posse como Presidente do Brasil. O acto, normal em democracias maduras, representou, nas circunstâncias em que o Brasil tem vivido, uma vitória da democracia. Uma vitória difícil, num país em que parte da população pede a instauração de uma ditadura militar e com ela o fim das liberdades políticas. Veremos se a experiência política do novo Presidente é suficiente para ultrapassar a profunda divisão em que o país se encontra, onde a direita democrática foi pulverizada pelo bolsonarismo, que tem um vincado ódio ao centro esquerda, que pinta como se fosse constituído por perigosos radicais. Veremos ainda se Lula da Silva tem capacidade e instrumentos políticos para tirar da pobreza os 60% de brasileiros, ou parte deles, que nela se encontram.
Guerra na
Ucrânia. O ano que acabou trouxe a guerra para dentro da Europa. Foi o ano
em que os europeus tiveram uma terrível lição sobre o que é a política
internacional. As guerras eram há muito, com exclusão do problema dos Balcãs,
uma coisa longínqua. Agora, é à porta de casa, uma guerra incompreensível para
o cidadão comum. Os europeus aprenderam – espera-se – que a sua segurança não
está garantida e que é preciso fazer alguma coisa por ela. Aprenderam ainda
outra coisa – espera-se, mais uma vez –, aprenderam que diversas potências
mundiais utilizam a economia e os negócios como forma de fazer ruir a casa
europeia, criando laços de dependência que, na altura certa, são usados como
trunfos políticos, senão militares, para conduzir, muitas vezes com cúmplices
europeus, os países da velha Europa à submissão.
quinta-feira, 5 de janeiro de 2023
A persistência da memória (20)
W. Eugene Smith, Extremadura. Town of Deleitosa, Spain, 1951 |
terça-feira, 3 de janeiro de 2023
Beatitudes (56) Uma branca beleza
Lee Miller, The veiled Eiffel Tower from the Palais de Chaillot. Winter 1944-45 |