domingo, 15 de janeiro de 2023

Beatitudes (57) O que está consumado

Kurt Hielscher, Salt Warehouses, Lübeck, 1931

Nunca a perfeição do passado deixa de espantar o viajante no tempo. A duração tem estranhos poderes, pois, sem que se saiba a razão, vai limando as imperfeições que o presente nunca esconde, para que aquilo que ultrapassou os dias da utilidade vibre agora sob uma outra luz. Esta nova luminosidade, com uma cintilação secreta e comedida, faz poisar o grande pássaro da felicidade naqueles lugares onde um dia reinou o tumulto, que confundia num abraço indistinguível o prazer e a dor. Eliminada esta pelo bisturi da temporalidade, reina a serena beatitude com que se olha aquilo que está consumado.

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