Autor não identificado, Moment of execution, February 1, 1968 |
Existem estranhas convicções que, muitas vezes, quem as tem nem dá por elas. Numa resposta a um tweet sobre a execução de dois iranianos, condenados num julgamento, no qual os condenados já o eram antes de serem julgados, alguém dizia: Como é possível acontecerem actos bárbaros em pleno século XXI. Nesta afirmação, aliás trivial, existe a convicção de que com o passar do tempo, os seres humanos vão deixando de ser aquilo que eram no passado e se vão tornando mais cordatos, mais civilizados. Por certo, haverá uma crença ingénua no progresso moral da humanidade. Esta crença pressupõe uma outra. A moralidade terá poder, ao exercer ao longo do tempo uma pedagogia civilizatória, para conter e modificar aquilo que existe de tenebroso nos seres humanos.
Apesar de existirem autores, como Steven Pinker, que argumentam a favor de um progressivo domínio dos anjos bons da nossa natureza, um olhar para o século XX só pode deixar desolado quem quer acreditar no progresso moral dos homens. Talvez o tempo – a passagem dos séculos – tenha pouco poder sobre a nossa natureza básica, onde a disposição para a bondade e o altruísmo convivem com a inclinação para a violência e a maldade pura. O século XXI, onde ainda não existiram grandes manifestações de maldade colectiva como aquelas que surgiram no anterior, não parece, todavia, menos propenso para a barbárie. Assiste-se até ao questionamento de certas práticas de convivência social que se tinham por adquiridas. Por exemplo, tem perdido prestígio a ideia da resolução pacífica e negociada de conflitos sociais e de diferenças de opinião moral e religiosa.
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