Com o desencadear das guerras coloniais, a oposição, das várias cores, afastou-se do devaneio colonial. O problema é que parte significativa da intelligentsia e da militância da direita democrática e moderada vive na saudade simbólica desse devaneio artificioso que era o Portugal pluricontinental. Tem dificuldade em dizer guerra nas colónias e soletra guerra no ultramar. É uma saudade interessante, pois não acarreta riscos. Aos jovens de direita não se põe o problema de ir combater na guerra e os pais não têm de ver os filhos partir, ou se influentes, usar a influência para que o rapaz tenha uma tropa confortável, longe da frente de combate. Um dos principais problemas do nosso regime, que emerge sempre que se trata do passado, é a cumplicidade da direita portuguesa, ao contrário da italiana ou francesa, com a ditadura. Só o 25 de Abril a libertou e tornou democrática.
Uma democracia
deve aprender a olhar para o seu passado com aquilo que teve de exaltante e de
aviltante. Faz parte do exaltante o facto de Portugal ter sido um dos artesãos
principais da primeira globalização e, desse modo, ter também preparado o mundo
para os tempos modernos. Isso não pode tapar o facto de Portugal ter sido uma
potência colonial, que esbracejou com outras potências coloniais europeias o
domínio de territórios onde existiam pessoas que foram colonizadas e
escravizadas. Era o espírito europeu da época, mas esse espírito era
objectivamente errado, mesmo que os políticos da altura não o achassem. Era
importante que os partidos democráticos, à esquerda e à direita, tivessem uma
visão comum sobre a questão colonial, pois esta não é um problema apenas do
passado. Toca as relações com os Povos Africanos de Língua Oficial Portuguesa, que
terão pouca paciência para o negacionismo luso.
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