A vida política nas democracias liberais é marcada pelo movimento pendular entre direita e esquerda. Quando uma colapsa, a outra torna-se forte, até que a situação se inverta. O que se está a assistir em Portugal é a uma derrocada das esquerdas e a um fortalecimento das direitas. É destas que se espera a futura governação do país. O problema que se coloca, porém, é que a direita está num processo de reconversão, que passou pela eliminação do tradicional e previsível CDS, o encolhimento do PSD e a clara afirmação de dois novos partidos na direita do espectro político.
A Iniciativa Liberal é uma congregação curiosa. Muitas daquelas pessoas poderiam ser, caso estivéssemos nos anos setenta do século passado, militantes dos grupos de extrema-esquerda maoístas e estalinistas. A mesma intolerância, a mesma rigidez ideológica, a mesma vontade de afirmação pessoal. Portugal assim como nunca teve qualquer inclinação marxista, também nunca se interessou pelo liberalismo. Muita pesporrência dos nossos recentes liberais, idêntica à da antiga extrema-esquerda, deve-se a uma visão enviesada, nascida na universidade, da realidade nacional. Veremos se têm capacidade para moderarem os instintos ideológicos.
Olhado de fora, percebe-se que o Chega é uma organização patética. Faz política a partir de um sentimento antipolítico, mobiliza a moral como trampolim para o poder. Sabe-se bem a que imoralidades conduz o discurso moral em política, mas as pessoas são cegas e surdas. Em tudo isto reside o perigo. Quem queira perceber o que seria o país entregue ao Chega, basta olhar ao que Ventura faz no próprio partido. No Chega confluem um projecto de poder pessoal e interesses económicos poderosos desejosos de se libertarem da ‘trapalhada’ da democracia representativa, dos sindicatos, das negociações, etc. Como o sentimento antipolítico é grande no país, o Chega tem campo para crescer.
Como sempre que está fora do poder, o drama do PSD reside numa liderança cinzenta. Luís Montenegro não tem o carisma de um Passos Coelho, de um Cavaco Silva e, muito menos, de um Sá Carneiro. E isto torna a posição do PSD periclitante. Um líder forte do PSD penetra no país e seca as outras direitas, sem alienar o centro, como foi o caso de Cavaco Silva. Um líder sem fulgor expõe o PSD à necessidade de se coligar com o diabo e de ter de abdicar de uma visão moderada e civilizada da governação. Quanto mais fraca for a liderança do PSD, mais este terá de se sujeitar aos delírios dos novos partidos da direita, o que será péssimo para a democracia e pior para o país e para a maioria das pessoas.
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