Uma sondagem da Pitagórica, realizada entre 11 e 17 de Janeiro, mostrava uma radical alteração no panorama político nacional. A grande novidade não será que o PSD tenha ultrapassado o PS em intenções de voto, mas que a direita (PSD, Iniciativa Liberal e Chega) tenha mais peso no eleitorado do que a esquerda (PS, BE, CDU e Livre). Na sondagem, a direita vale 52,8% e a esquerda soma 36,6%. Poder-se-á pensar que é apenas uma sondagem e que esta disposição do eleitorado é conjuntural. Contudo, a tendência e o próprio espírito do tempo parecem indicar que não será assim. O país prepara-se para fazer uma nova experiência política. Valerá a pena fazer uma arqueologia deste colapso.
O momento inaugural da queda é aquele em que a esquerda pareceu mais forte, o dia em que António Costa e os socialistas, apesar de terem perdido as eleições, formaram governo com o apoio parlamentar do Partido Comunista e do Bloco de Esquerda. Este momento é decisivo porque é a matriz do que vem depois. A esquerda tinha encontrado uma solução de governo que impedia a direita de governar, mas não tinha descoberto uma solução comum para o país. A geringonça foi, na prática, uma coligação negativa, unida por aquilo que não queria, mas incapaz de encontrar uma política unificada para dar rumo à sociedade portuguesa e uma plataforma para reformar seriamente o país. A queda do segundo governo de António Costa, ajudada pelo BE e PCP, não foi mais do que a confirmação de tudo isto. O eleitorado decidiu punir a esquerda que derrubara o governo e deu uma maioria absoluta aos socialistas.
O problema é que nem os socialistas, entregues a si mesmos, têm qualquer coisa de sólida para oferecer. Sem um rumo para as grandes questões da saúde e da educação, viram chegar um conjunto de conflitos sociais a que se adicionou uma tempestade ética e judicial. Neste momento, os socialistas são olhados com uma agência de emprego e uma sociedade com crescentes dificuldades com a justiça. A esta degradação moral do PS junta-se a sensação da irrelevância política de comunistas e bloquistas, presos aos seus fantasmas. António Costa, Jerónimo de Sousa e Catarina Martins tiveram a ousadia para iniciar um caminho, mas faltou-lhes talento para encontrarem um programa credível e exequível que ajudasse a reformar as instituições e adaptar Portugal aos tempos conturbados em que vivemos. Se a direita vier em breve a ocupar o poder juntamente com a extrema-direita, a esquerda escusa de brandir a ameaça do populismo. Foi ela que, por motivos vários, lhe abriu o caminho.
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