domingo, 5 de novembro de 2023

Leggio IV

Bernardo Marques, Tejo (aqui)
 

Ruídos de sirenes pela noite de transeuntes

ao acaso das ruas rendidos. Em estreitas ruelas,

flamejam avaras pequenas luzes e se pelo chão

imundos os destroços caem, é nas mãos

 

vazias que brancos e lívidos se trazem. Esqueceram

na senda da noite o nome que lhe deram e

sentados na calçada ao anjo pedem

pela manhã a memória venha, mesmo se branca,

 

mesmo se fria e gélida. Garrafas partidas,

estilhaçados copos, tudo a noite cobre,

e os corpos destilam abraçados; gavinhas

 

frágeis, logo a aurora as desfaz. No frio da cidade

o ar recobre-se de névoas e o Tejo embarca

pelo mar ali no lugar onde tudo se refaz.


(2006)

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