A direita, porém, há uns anos, e não são poucos, começou a preparar um ataque cerrado à hegemonia da esquerda no campo da cultura. Iniciou-o por coisas de baixa cultura, como uma decidida ocupação da comunicação social, de onde a esquerda, outrora hegemónica, foi quase banida, como se pode ver nos comentários nas televisões do tal episódio que eu ainda não compreendi. Ao mesmo tempo, essa direita – aliás, multifacetada – preocupou-se com a ocupação da universidade, em criar nela pólos que disseminem, no campo da cultura, a visão das direitas, que ofereçam interpretações do mundo que, digeridas pela comunicação social, se tornem narrativas que oferecem às pessoas explicações sobre a vida social, lhes dão uma certa orientação sobre o que se pretende que seja a verdade, o bem e o justo. Nada que a esquerda não tenha feito, mas de um modo menos deliberado, fruto de uma resistência à atrofia intelectual imposta pelas antigas ditaduras de direita.
A esquerda, no
campo cultural, está em acentuado recuo. Os herdeiros do neo-realismo e do
realismo socialista nada têm para propor que interesse as novas gerações, e a
orientação que certa esquerda adoptou, virando-se para os problemas de
identidade, tem pouca capacidade para criar uma narrativa que consiga dar uma
visão do mundo globalmente aceitável, uma orientação na qual as pessoas sintam
que ali pode estar a verdade, o bem e a justiça. Hegel terá dito que quando as
ideias mudam, a realidade não resiste. Mesmo que a citação seja apócrifa, o que
nela se expressa está a ser levado muito a sério pela direita, enquanto a
esquerda parece completamente desorientada, oferecendo de bandeja à direita o
campo cultural, onde se decide como é que se deve interpretar o mundo, a
sociedade e aquilo que pode e deve ser realizado.
Sem comentários:
Enviar um comentário
Nota: só um membro deste blogue pode publicar um comentário.