A segunda observação prende-se com o actual regime político. A transição à democracia, em Abril de 1974, deve-se a parte das forças armadas, mas o regime só se tornou plenamente democrático quando os militares recolheram aos quartéis e o Conselho da Revolução foi extinto, pondo-se fim a uma tutela inaceitável sobre as instituições políticas. O primeiro Presidente eleito ainda foi um militar, mas a sua eleição está ligada aos acontecimentos da época e não deixou de ser problemática. Normalizada a vida em democracia, nunca mais um militar desempenhou um cargo de relevo na vida política. Uma eventual eleição de Gouveia e Melo – e, tendo em conta o país que somos, tem francas possibilidades de vencer – representará um retrocesso de quase 50 anos.
O que me
atormenta pode-se traduzir nas seguintes questões: Que pretende um homem de
acção, sem experiência política, ao aspirar a um cargo onde as questões
fundamentais estão fora do seu alcance? Que pretende um homem habituado a
comandar e a ser obedecido ao assumir um cargo onde o seu poder de imposição se
limita ao que a lei prescreve? Como não será de crer que o Almirante pense
fazer da Presidência da República o lugar para gozar a reforma de militar,
estas questões são cruciais. Corremos o risco de instalar em Belém um factor de
perturbação das instituições democráticas. É preciso recordar que o General
Ramalho Eanes, com um projecto de poder pessoal, foi, a partir de certa altura,
causa de grande perturbação político-institucional. De tal maneira que tanto
Mário Soares como Sá Carneiro e Freitas do Amaral retiraram-lhe o apoio. Ora se
Gouveia e Melo não tem um projecto de poder pessoal, por que razão se candidatará?
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