Jerónimo de Sousa, ex-secretário-geral do Partido Comunista Português, manifestou o desejo de deixar o comité central do Partido, para, como afirma o próprio, dar lugar a membros mais jovens. Segundo o Público, a média etária do futuro comité central será de 48 anos. O problema do Partido Comunista Português não é, como se pode ver, o da falta de juventude do seu comité central, nem, talvez, dos seus militantes. O problema é, antes de tudo, o seu eleitorado, que está ao mesmo tempo em regressão e em envelhecimento. Contudo, o pior é a idade da visão ideológica do partido.
O Partido Comunista Português conseguiu resistir às desilusões trazidos pelas intervenções soviéticas na Hungria, em 1956, e na Checoslováquia, em 1968. O 25 de Abril deu-lhe um ânimo suplementar. Contudo, a Queda do Muro de Berlim e o desmoronamento do chamado socialismo real nos países do antigo bloco de leste, incluindo a União Soviética, liquidou a capacidade de atracção dos eleitores que ainda restava ao PCP. A degradação do poder de mobilização social e eleitoral foi crescendo e é possível que tenha recebido um golpe fatal com a posição perante a invasão russa da Ucrânia.
A isto junta-se o espírito do tempo. O que atrai, nos dias de hoje, os jovens está muito longe daquilo que propõem os comunistas. Por um lado, temos uma atracção centrada numa visão liberal do mundo, no sucesso individual, na afirmação do mérito. Por outro, as perspectivas comunitaristas mais mobilizadoras para a juventude, nos dias de hoje, vêm da direita-radical e da extrema-direita. A afirmação de identidades nacionais, a afirmação da diferença em relação ao outro e, até, a afirmação da masculinidade, num contexto onde muitos jovens do sexo masculino fantasiam que os valores da virilidade estão em decadência e se tornam motivo de militância. Poucos são os jovens - e os menos jovens - que se interessam pela luta de classes, pelo espírito de classe, pela união dos trabalhadores contra o capital. Para eles, esta visão ideológica do mundo não faz sentido, a não ser como prova de um fracasso pessoal. E isto é um problema para os partidos comunistas que ainda existem na Europa, onde se inclui o português.
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