O poder de contaminação da primeira potência mundial é tal que todos devemos temer pelos regimes democráticos europeus. A equipa que vai chegar em 2025 à Casa Branca não é a mesma que Donald Trump levou em 2016 e ele também não é o mesmo. Ele e os que o rodeiam não vão apenas querer exportar mercadorias, mas também ideologia. Vão querer influenciar os países europeus e se possível livrarem-se das elites políticas democráticas. O que aconteceu nos EUA é um poderoso propulsor para a extrema-direita europeia, a qual governa já a Itália, a Hungria, integra o governo dos Países Baixos e, apesar de estar fora do governo, o FPO, partido austríaco de extrema-direita, foi, nas últimas eleições, o partido mais votado. Os principais partidos de extrema-direita em França e na Alemanha estão consolidados e poderão em breve tornar-se decisivos.
Qual é o
principal bem que uma democracia fornece a cada cidadão? O principal bem é a
sua individualidade, o respeito pela pessoa, pelo seu direito a ter opinião,
seguir os seus projectos pessoais, deslocar-se por onde entender. A democracia
dá-lhe o maior dos bens: o direito à singularidade. Exige-lhe, em
contrapartida, que respeite igual bem de todos os outros. Ora, o que os regimes
tirânicos, sejam eles mais ou menos ferozes, roubam, em primeiro lugar, a cada
um é essa singularidade. A destruição do indivíduo é o seu objectivo. Tornar a
pessoa numa mera célula de um tecido social manipulado e orquestrado por
aqueles que têm o poder. Querem dizer-nos como devemos pensar, o que devemos
dizer e o que temos de calar, o que devemos fazer e como devemos agir. Ora, com
a evolução tecnológica a que assistimos, um poder tirânico facilmente
controlará cada passo da nossa vida e terá capacidade ilimitada para nos
destruir enquanto indivíduos. Temo pelos meus netos nesse admirável mundo novo.
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