| José Dominguez Alvarez, sem título (Rua ao Sol), 1930 (Gulbenkian) | 
Treme
um homem glabro 
na
luz violácea da doença,
uma
agonia irreparável,
a
ânfora solar no lento sorver
do
suor pelo lenço. 
É
um homem nocturno,
dizimado
pela fuligem, 
carcomido
pelo caruncho,
esventrado
pela navalha romba 
roubada
ao vício da noite.
Quis
amputar da vida a morte. 
O
sol semeou-lhe palha 
no
éter do caminho, 
um
feno rasteiro sobre a pele,
o
cardume de silvas nas mãos.
Arranca
do peito o vazio
sem
fundo, mobiliza em palavras
redemoinhos
de erva. 
A
ânfora solar derrama a dor, 
o
pesado bastão na vagem da vida.
(1993)
[Conjunto de cinco poemas pertencentes à série Cânticos da Terra Amarela]
 
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