Hein Semke, Meerlandschaft-Lofoten, 1980 (Gulbenkian) |
Uma
pedra casta no centro do mar.
O
frágil barco do coração
navega
sob a inclemência marítima da luz.
Impérios
de areia e algas,
dunas,
vento trespassado pelo láudano
rasga
a terra debruçada sobre as marés.
A
baía vinda da infância,
o
mar lento e sem ondas, o pórtico
por
onde entra o fogo do sonho,
sai
o incêndio do desejo.
Um
caderno cor de cinza marítima,
o
nome escrito, página a página,
nome
vindo das águas, dedilhado nas ondas,
rasurado
pela luz das glicínias,
o
voo das gaivotas.
Escrito,
o nome é uma bússola,
a
salvação dos navegantes perdidos
na
vertigem do mar, na fímbria do destino,
a
água fremente do mar vinhoso.
O
cais debrua a baía,
traineiras,
alarido de vozes,
a
luz na sonolência da tarde.
A
rebentação salpica de sal a língua,
o
caminho de farol a farol,
a
água inquieta na púrpura dos dias:
o
silêncio da serpente na sombra do mar,
a
pedra na castidade do coração.
(1993)
[Conjunto de três poemas pertencentes à série Cânticos da Terra Amarela]
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