quinta-feira, 12 de dezembro de 2024

Os resultados portugueses nos estudos internacionais sobre educação

Mark Wallinger, School Classroom, 1990 (Gulbenkian)

Os comentadores da área educativa andam um pouco abespinhados (ver, por exemplo, aqui ou aqui). A pátria, pobre dela, desceu nos rankings internacionais da educação. Os alunos portugueses, nas provas internacionais, tiveram piores resultados do que seria expectável, tendo em conta o que já tinham alcançados em edições anteriores. Há vários factores que levam a que os nossos alunos, mas também a muitos alunos dos países ocidentais, tenham, nessas provas, desempenhos medíocres. Concentremo-nos apenas em três aspectos culturais. 

Continua a haver, em parte significativa do país, uma cultura que conflitua com as aprendizagens e a disciplina que elas exigem. Isto nunca é reconhecido pelos agentes políticos incumbentes nas diversas governações. O facto de se ignorar essa cultura anti-escolar não significa que ela não tenha repercussões significativas. Tem e não são poucas. Os alunos chegam à escola e reflectem essa cultura. Ao pouco interesse que a escola lhes desperta associam, a partir de certa altura, atitudes de indisciplina, as quais, apesar da retórica de alguns ministros, estão mais que escudadas na trama ideológica e legal que envolve a escola pública. 

Em segundo lugar, a sociedade portuguesa, mesmo onde a escolarização é vista como importante, é genericamente pouco culta. Os interesses maiores são o dinheiro, o status social, os objectos que provam esse status. Ler livros é uma chatice. Como escreveu Fernando Pessoa: Livros são papéis pintados com tinta. / Estudar é uma coisa em que está indistinta / A distinção entre nada e coisa nenhuma. A ironia pessoana, com efeito, é o reflexo de uma cultura que pensa isso mesmo da leitura e dos livros. É provável que por toda a Europa os níveis culturais - tomando por cultura, a alta cultura - estejam em regressão. O problema português é que esse níveis nunca estiveram em alta. A escolarização (onde se inclui a universidade com a sua panóplia de graus) não representou, ao democratizar-se, uma ruptura, por parte dos novos escolarizados, com a baixa cultura, mas antes a invasão das instituições de ensino por essa baixa cultura.

Por fim, as escolas portuguesas estão atafulhadas num delírio de projectos, planos, avaliações, monitorizações, auto-avaliações e tudo aquilo que nem ao diabo lembra, mas lembra a quem toma decisões na educação. Isto gera nas instituições de ensino uma incapacidade para definir os seus objectivos e deixa os profissionais à beira de um ataque de loucura. A função docente, nos dias que correm, é uma amálgama de coisas inventadas pelo burocracia nacional e europeia que vampiriza a energia dos professores e os desvia das questões fundamentais. Há uma insanidade desmedida nas tutelas educativas que leva tantos as direcções escolares como os professores a viverem num estado de verdadeiro estupor, transformando-os em verdadeiros zombies.

Haverá outras razões, mas estas, por que são de índole cultural, são as centrais. Parte dos alunos vêm de mundos adversos ao ethos escolar. Um país culturalmente medíocre. Uma cultura política educacional marcada por um delírio burocrático e uma insanidade organizacional. Enquanto isto se mantiver, os resultados - ora melhores, ora piores - serão medíocres. Por que razão haveriam de ser excepcionais?

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