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sexta-feira, 31 de janeiro de 2025
Malditos factos
quarta-feira, 29 de janeiro de 2025
Ensaio sobre a luz (126)
Alphonse Gibory, La Seine au Trocadéro, 1906 |
segunda-feira, 27 de janeiro de 2025
Nocturnos 126
Egon Schiele, Durch Europa bei Nacht, 1906 |
sábado, 25 de janeiro de 2025
As inquietações do Presidente
O tempo novo é marcado pelo facto de os EUA deixarem de ser uma potência liberal, e de se alinharem pelas concepções de política internacional que vigoram na Rússia e na China. Uma das consequências será o fim da estabilidade das fronteiras e a fragilização das independências nacionais. Tudo dependerá dos interesses das grandes potências. Isso afecta de imediato parte substancial da Europa de Leste, onde os interesses russos estão ao rubro. Por outro lado, a União Europeia fica confrontada com três grandes potências interessadas no seu desmantelamento: Rússia, China e EUA. Irão destabilizá-la tanto externamente como através do fomento de forças nacionais extremistas contrárias ao projecto Europeu. Uma desintegração da União Europeia afectará tanto a capacidade dos europeus em defenderem-se de agressões militares, como de sobreviverem economicamente.
Por tudo isto
se compreende a preocupação de Marcelo Rebelo de Sousa. Sabe-se que Portugal
dificilmente é viável, do ponto de vista económico, sem a União Europeia. Os
recursos humanos e de matérias-primas são escassos e o mercado nacional
diminuto. A turbulência que se adivinha pode colocar o país numa situação
económica de grande fragilidade. O problema, porém, pode não ficar por aqui.
Numa nova ordem, ou desordem, internacional, onde nenhuma fronteira está
segura, um país frágil económica e militarmente pode tornar-se incapaz de
assegurar a sua independência nacional. É preciso não esquecer que em política,
aqueles que hoje são nossos amigos, amanhã podem ser inimigos. O que se perfila
no horizonte, tanto na economia como na dimensão militar, é, para um país como
Portugal, muito inquietante. Terão os europeus, para sobreviverem, capacidade e
vontade de se adaptar ao novo mundo?
quinta-feira, 23 de janeiro de 2025
O Silêncio da Terra Sombria (1)
terça-feira, 21 de janeiro de 2025
Prosa dos dias (30) Lugares vazios
Henri Cartier-Bresson, Florence, 1933 |
domingo, 19 de janeiro de 2025
Comentários (26)
Francisco Bayeu y Subias, El Olimpo: Batalla de los gigantes |
sexta-feira, 17 de janeiro de 2025
Simulacros e simulações (70)
Lucio Muñoz, 7-86, 1986 |
quarta-feira, 15 de janeiro de 2025
Invocação ao Sol (5)
Paul Klee, Castle with Setting Sun, 1918 |
Soltavam
palavras de fogo
na
superfície sulfatada da terra,
um
jardim de ânimo transfigurado,
provérbios
esquecidos
no
porão da memória.
Os
barcos vinham vazios,
sentavam-se
mulheres ao sol,
a
conversa para enxaguar
a
mancha no descompasso da vida.
Acreditavam
nos deuses,
milagres
matinais entre heras,
o
sol a cintilar nos fetos,
acácias
na sombra da casa.
Terra
vergada ao peso das luas,
sem
o fogo do espírito,
submersa
na humidade dos domingos.
Refreado
pelo peso da luz,
o
mundo caía na palha da noite.
Grãos
de areia, sílica, mica,
quartzo
iluminado pelo tempo.
No
revérbero solar desta sabedoria,
um
arquitecto ocioso trabalha
os
dias e as noites, a sombra
fortuita
na mantilha da memória.
(1993)
segunda-feira, 13 de janeiro de 2025
O antigo regime e a revolução
Paul Klee, !Todo corre em pos de algo!, 1940 |
sábado, 11 de janeiro de 2025
Nacional-populismo, enraizamento e impacto
Revisito um livro de que já falei aqui em artigo de Abril de 2023. Trata-se de Populismo - A revolta contra a democracia liberal (2018), de Roger Goodwin & Mathew Eatwell. Naquele artigo, o sublinhei os quatro D que, segundo os autores, estarão na base do crescimento do fenómeno nacional-populista: Desconfiança dos cidadãos, devido ao elitismo político e institucional da democracia liberal. Destruição das comunidades e da identidade nacional pela imigração e a mudança étnica. Despojamento sentido pelas pessoas em consequência da globalização, do aumento das desigualdades e da perda de esperança. Desalinhamento entre o povo e os partidos tradicionais, com a quebra dos laços que ligavam eleitores e partidos.
Interessa-me, agora, uma outra tese dos autores. Em 2018, rebateram a ideia que corria em meios académicos, políticos e comunicacionais de que o fenómeno do nacional-populismo, tal como uma epidemia, já tinha atingido o seu pico e que estaria em recessão. Goodwin & Eatwell defenderam o contrário, em dois pontos: 1. O nacional-populismo é um movimento de desafio às políticas e valores liberais, um fenómeno enraizado em correntes históricas profundas e não um acidente passageiro. 2. O nacional-populismo representa uma mudança estrutural na política ocidental, com um impacto duradouro nas relações entre eleitores e sistemas políticos. Ora, ter-se-á pensado que com as posteriores vitórias de Joe Biden, nos EUA, e de Lula da Silva, no Brasil, que os autores em questão estariam errados, que afinal o nacional-populismo era um episódio desagradável, mas passageiro.
A vitória de
Trump em 2024 e o crescimento do nacional-populismo na Europa vieram mostrar
que Goodwin & Eatwell tinham razão. É uma corrente política enraizada no
mundo ocidental e com impacto duradouro na política ocidental. O
nacional-populismo não é uma doença episódica, mas crónica, que coloca graves
problemas. O primeiro é o de aprender a lidar com ele. Foram tentadas várias
soluções (cercos sanitários, coligações de circunstância, cedências
programáticas, etc.), mas nenhuma diminuiu o impacto dessa corrente. Um dos
desafios políticos para 2025 será o de aprender a lidar com uma corrente
iliberal, que faz do comportamento errático e, em aparência, irracional a força
com que atrai eleitores e abre brechas nas democracias. Se as forças
democráticas tradicionais não aprenderem a lidar com o nacional-populismo, este,
com o retorno de Trump, pode transformar-se numa doença fatal. Ora, a
aprendizagem deve começar por prestar atenção aos quatro D que levam os
eleitores para os braços destes movimentos.
quinta-feira, 9 de janeiro de 2025
O caos anunciado
Manuel Filipe, Guerra, 1945 (Gulbenkian) |
terça-feira, 7 de janeiro de 2025
Meditações melancólicas (94) Afinal, nem parece um rei
René Magritte, El Mutilado, 1947 |
domingo, 5 de janeiro de 2025
Cadernos do esquecimento 55 Imagens
Abel Manta, sem título, 1932 (Gulbenkian) |
sexta-feira, 3 de janeiro de 2025
Beatitudes (76) Das coisas raras
Alfred Stieglitz, Lago di Misurina, The Tyrol, 1891 |
A quietude das montanhas, as águas paradas do lago, o silêncio que sombreia a floresta. Caminha-se pela senda rasgada na terra e espera-se encontrar a cabana que acolherá a solidão do viandante. Ali, pensa-se, a felicidade será possível, mesmo que a noite seja visitada por terríveis tempestades e a presença humana se rarefaça. Só o que é raro tem valor, mesmo se o perigo aí se oculta.
quarta-feira, 1 de janeiro de 2025
Invocação ao Sol (4)
Edward Hopper, Morning Sun, 1952 |
Sol
de Verão rasgado pela corola,
a
lógica animal trazida
pelos
dias de Agosto,
o
símbolo da abundância
semeado
na ânfora da noite.
Árvores
espraiam a seiva da sombra
sobre
um campo de luz,
sobre
oceanos de surda solidão,
a
folhagem agreste a rasgar o corpo.
Quando
o Verão vem,
as
dunas deslizam pelas praias.
Mares
de areia à solta
em
paisagens de rochas e limos,
a
lâmina curva a cintilar
no
verde-azul a cerzir o horizonte.
Vigora
uma ordem perfeita,
rasgão
no pano-cru da atmosfera.
Da
boca solar caem dias de lume,
lâmpadas
de fogo na senda subterrânea,
no
trabalho do espírito abrindo a carne
ao
grito trémulo da língua.
Sobre
o comboio dos dias
arde
o bulício do astro,
o
mosto entre as pernas das mulheres,
o
sacrifício solar
no
mármore opaco da escuridão.
(1993)
[Conjunto de cinco poemas pertencentes à série Cânticos da Terra Amarela]