sábado, 25 de janeiro de 2025

As inquietações do Presidente


A preocupação do Presidente da República, nas suas últimas intervenções, com a situação internacional faz  muito sentido, muito mais do que seria desejável. Estamos a entrar num tempo novo com a promessa de grande turbulência. O retorno de Donald Trump aniquila, a partir do seu próprio centro, os EUA, a ordem internacional liberal. Iniciada no pós segunda guerra mundial, incrementada com a derrota do bloco soviético no início dos anos 90 do século passado, começou a ser questionada no início do século XXI. A invasão da Ucrânia representou um enorme golpe para essa visão do mundo. A mudança nos EUA, com a retórica de ocupação da Gronelândia, canal do Panamá e Canadá, mesmo que nada disso ocorra, significa que a moribunda ordem internacional já está substituída, mesmo ao nível das ideias, pela lei do mais forte.

O tempo novo é marcado pelo facto de os EUA deixarem de ser uma potência liberal, e de se alinharem pelas concepções de política internacional que vigoram na Rússia e na China. Uma das consequências será o fim da estabilidade das fronteiras e a fragilização das independências nacionais. Tudo dependerá dos interesses das grandes potências. Isso afecta de imediato parte substancial da Europa de Leste, onde os interesses russos estão ao rubro. Por outro lado, a União Europeia fica confrontada com três grandes potências interessadas no seu desmantelamento: Rússia, China e EUA. Irão destabilizá-la tanto externamente como através do fomento de forças nacionais extremistas contrárias ao projecto Europeu. Uma desintegração da União Europeia afectará tanto a capacidade dos europeus em defenderem-se de agressões militares, como de sobreviverem economicamente.

Por tudo isto se compreende a preocupação de Marcelo Rebelo de Sousa. Sabe-se que Portugal dificilmente é viável, do ponto de vista económico, sem a União Europeia. Os recursos humanos e de matérias-primas são escassos e o mercado nacional diminuto. A turbulência que se adivinha pode colocar o país numa situação económica de grande fragilidade. O problema, porém, pode não ficar por aqui. Numa nova ordem, ou desordem, internacional, onde nenhuma fronteira está segura, um país frágil económica e militarmente pode tornar-se incapaz de assegurar a sua independência nacional. É preciso não esquecer que em política, aqueles que hoje são nossos amigos, amanhã podem ser inimigos. O que se perfila no horizonte, tanto na economia como na dimensão militar, é, para um país como Portugal, muito inquietante. Terão os europeus, para sobreviverem, capacidade e vontade de se adaptar ao novo mundo?

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