sábado, 11 de janeiro de 2025

Nacional-populismo, enraizamento e impacto

 

Revisito um livro de que já falei aqui em artigo de Abril de 2023. Trata-se de Populismo - A revolta contra a democracia liberal (2018), de Roger Goodwin & Mathew Eatwell. Naquele artigo, o sublinhei os quatro D que, segundo os autores, estarão na base do crescimento do fenómeno nacional-populista: Desconfiança dos cidadãos, devido ao elitismo político e institucional da democracia liberal. Destruição das comunidades e da identidade nacional pela imigração e a mudança étnica. Despojamento sentido pelas pessoas em consequência da globalização, do aumento das desigualdades e da perda de esperança. Desalinhamento entre o povo e os partidos tradicionais, com a quebra dos laços que ligavam eleitores e partidos.

Interessa-me, agora, uma outra tese dos autores. Em 2018, rebateram a ideia que corria em meios académicos, políticos e comunicacionais de que o fenómeno do nacional-populismo, tal como uma epidemia, já tinha atingido o seu pico e que estaria em recessão. Goodwin & Eatwell defenderam o contrário, em dois pontos: 1. O nacional-populismo é um movimento de desafio às políticas e valores liberais, um fenómeno enraizado em correntes históricas profundas e não um acidente passageiro. 2. O nacional-populismo representa uma mudança estrutural na política ocidental, com um impacto duradouro nas relações entre eleitores e sistemas políticos. Ora, ter-se-á pensado que com as posteriores vitórias de Joe Biden, nos EUA, e de Lula da Silva, no Brasil, que os autores em questão estariam errados, que afinal o nacional-populismo era um episódio desagradável, mas passageiro.

A vitória de Trump em 2024 e o crescimento do nacional-populismo na Europa vieram mostrar que Goodwin & Eatwell tinham razão. É uma corrente política enraizada no mundo ocidental e com impacto duradouro na política ocidental. O nacional-populismo não é uma doença episódica, mas crónica, que coloca graves problemas. O primeiro é o de aprender a lidar com ele. Foram tentadas várias soluções (cercos sanitários, coligações de circunstância, cedências programáticas, etc.), mas nenhuma diminuiu o impacto dessa corrente. Um dos desafios políticos para 2025 será o de aprender a lidar com uma corrente iliberal, que faz do comportamento errático e, em aparência, irracional a força com que atrai eleitores e abre brechas nas democracias. Se as forças democráticas tradicionais não aprenderem a lidar com o nacional-populismo, este, com o retorno de Trump, pode transformar-se numa doença fatal. Ora, a aprendizagem deve começar por prestar atenção aos quatro D que levam os eleitores para os braços destes movimentos.

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