Maria Helena Vieira da Silva, La Bibliothèque en Feu, 1974 (Gulbenkian) |
Não há nada mais próximo da ruindade
do que uma exígua biblioteca de província
desabando ao sol das cinco e meia da tarde.
Frederico Pedreira
Também das bibliotecas o destino é perecer, pois a fixidez que habita o discurso de cada um dos livros não é antídoto ou amuleto suficiente para as raptar à transitoriedade que o tempo sobre tudo faz cair. Umas desabam ao sol das cinco e meia da tarde. São pequenas bibliotecas esculpidas na lentidão da província. Outras, as grandes bibliotecas metropolitanas, entregam-se ao fogo, como é hábito acontecer quando um rebanho humano já não consegue suportar o peso excessivo da verdade que nelas se esconde. Nem a piedade filial, nem o amor dos devotos, nem o silêncio que as habita são escudo suficiente para parar o tempo e suster a derrocada ou a cintilação do incêndio; a ruindade dos homens será sempre a agência que Cronos precisa para fazer cumprir os seus éditos.
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