Mário Cesariny, Pintura lacerada II, 1970 (Gulbenkian) |
Os ramos frios, as letras ardentes,
a luz onde poiso, se cai a maresia.
Um som brame na esquina da rua,
semeia bolor no centro do peito.
Nos dias de sol, a voz das aves,
presa na mudez, desce do céu,
canta o segredo do silêncio,
o fulgor da tarde, a chuva a cair.
Parda de granizo, a ave de rapina
plana, suspensa da plumagem:
espreita a lua, espera a morte.
O destino vem na maresia do voo,
na cintilação da água sobre a terra:
o grito do animal na fuligem do fogo.
[1993]
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