segunda-feira, 24 de fevereiro de 2025

O Silêncio da Terra Sombria (4)

Mário Cesariny, Pintura lacerada II, 1970 (Gulbenkian)

Os ramos frios, as letras ardentes,

a luz onde poiso, se cai a maresia.

Um som brame na esquina da rua,

semeia bolor no centro do peito.

 

Nos dias de sol, a voz das aves,

presa na mudez, desce do céu,

canta o segredo do silêncio,

o fulgor da tarde, a chuva a cair.

 

Parda de granizo, a ave de rapina

plana, suspensa da plumagem:

espreita a lua, espera a morte.

 

O destino vem na maresia do voo,

na cintilação da água sobre a terra:

o grito do animal na fuligem do fogo.

 

[1993]


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