Os Iluministas valorizam os direitos do homem, a capacidade da razão individual para tomar decisões e melhorar o mundo e a vida dos indivíduos, as liberdades individuais, a ideia de valores universais – isto é, possíveis de partilhar por todos os seres humanos – e a democracia política. Os Anti-Luzes opõem-se, como mostra Sternhell, aos direitos humanos, negam a capacidade da razão para moldar as instituições e a vida das pessoas, opõem-se à emancipação dos indivíduos, defendem a importância da tradição, dos costumes, da pertença a uma comunidade histórica, cultural e linguística e desdenham da democracia. Estas campos estão em guerra declarada desde o século XVIII, guerra que não abrandou no século XIX, e que no século XX deu origem aos dois conflitos mundiais. Houve um momento ilusório, após a queda do Muro de Berlim, que se chegou a pensar na vitória definitiva do campo das Luzes.
O século XXI
traz uma novidade. A passagem, ainda em esboço, da principal potência
Iluminista, os Estados Unidos, para o campo dos Anti-Luzes. É isso que significa
o retorno de Donald Trump à presidência. O recém empossado presidente
americano, com o apoio de tecno-milionários, como Elon Musk, está a afrontar
uma a uma as crenças Iluministas que deram origem aos EUA e fizeram parte da
sua natureza até aos dias de hoje. Ver-se-á, nos próximos tempos, até que ponto
os valores do Iluminismo conseguirão resistir, nos EUA, à avalanche Trump. O
que estamos a viver é, depois da ascensão do fascismo e do nazismo, o maior
ataque aos valores das Luzes. Dito de forma clara: um ataque ao papel da razão
e dos valores universais, aos direitos humanos, às liberdades individuais e à
democracia política. Neste momento, os valores Iluministas subsistem na Europa,
mas estão a ser atacados de fora – veja-se o papel de Elon Musk – e por dentro,
através dos partidos de extrema-direita e direita radical, que ocupam já o
poder em alguns países ou estão em crescimento significativo. É isto o que se
está a passar.
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