Rafael Romero Barros - Adoración al Niño (1863)
No Público de ontem, José Vítor Malheiros escrevia sobre o ano em que Passos
Coelho matou o Natal. Percebe-se a argumentação tendo em conta a drástica redução dos portugueses à indigência que o actual governo, a coberto do acordo com a troika, está a perpetrar, bem como o medo
que se instalou pelo que está para vir. Indigência e medo são, de facto,
categorias que não servem para descrever o Natal. Mas Passos Coelho é demasiado
irrelevante para matar o Natal. Acontece antes uma outra coisa. O Natal
simboliza, enquanto expectativa futura, já o momento em que nos livraremos dos Passos
Coelhos e dos Relvas que atormentam a vida dos portugueses. A adoração do
Menino é também o tributo prestado à esperança dum novo tempo. Não um tempo de
utopias e de sociedades perfeitas (esse é o tempo que estamos a viver, um tempo
de fanáticos que acreditam num mercado perfeito e justo, uma utopia totalitária
como todas as utopias políticas), mas um tempo de equilíbrios e de negociações,
um tempo em que a acção política visa manter a coesão da sociedade e não
destruí-la, como é o propósito do governo de Passos Coelho. Na imagem da criança divina está também contida a esperança sensata dos homens que vivem na terra. Uma esperança na justiça, uma esperança fundada nesse saber que todas as crianças trazem consigo sobre a inadmissibilidade da injustiça, sobre a inaceitabilidade das partilhas injustas. Um bom dia de Natal,
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