A minha crónica semanal no Jornal Torrejano.
Decorreu uma nova recolha de alimentos organizada pelo Banco Alimentar. Apesar da crise que
atinge as famílias, a operação foi um sucesso, tanto pela quantidade de comida
recolhida como pela organização de uma vasta e eficiente rede de solidariedade.
O Banco Alimentar, bem como outras
instituições do género, é, no entanto, um símbolo da sociedade portuguesa,
daquilo que tem de melhor e do que tem de pior.
O que a sociedade portuguesa tem de melhor é este espírito de dádiva e
de solidariedade concreta, de entrega aos outros, de resposta efectiva a
necessidades de alguém quando já nada nem ninguém responde. Dar e trabalhar
para os outros, dizer presente quando tudo e todos se ausentam da vida das
pessoas, são actos de alto valor moral. Alguns dirão que não passa de caridade.
Sim, é verdade, tudo isto representa um género de caridade. Mas a caridade não
é um defeito. É uma virtude nobre, é uma resposta ao apelo daquele que nos é
próximo e nos solicita. Pelo acto caritativo, alguém rompe, nem que seja por
instantes, a esfera do seu egoísmo e abre-se para a dor do outro. Nestas acções
caritativas fundem-se a generosidade natural do ser humano e o amor ao próximo
cristão.
Por outro lado, o peso crescente do Banco Alimentar sinaliza o que há de pior na sociedade portuguesa.
Sinaliza uma sociedade em desagregação, uma sociedade que não encontrou um
caminho de integração económica de todos os seus membros. Sinaliza,
fundamentalmente, e terrível falência das elites políticas e económicas, a sua
incapacidade de pensar em soluções para o país e para a economia, a sua
incapacidade para mobilizar os cidadãos. Muitos – talvez a maioria – daqueles
que hoje recorrem ao auxílio do Banco
Alimentar são vítimas da incompetência dessas elites, do seu oportunismo,
da avidez com que colonizam a sociedade. O peso do Banco Alimentar é o sinal da degradação política que nos atingiu.
Criticam-se, por vezes, as instituições como o Banco Alimentar por suprirem necessidades que deveriam ser asseguradas pelo Estado. Não
confundamos os planos. Estas instituições movem-se na dimensão moral e não na
dimensão política. São moralmente virtuosas. Merecem todo o nosso apoio. Isso
não significa, contudo, que não se critique drasticamente a sociedade que gera
tamanhas desigualdades e injustiças. É verdade que os portugueses se devem
orgulhar do seu contributo para o Banco
Alimentar, mas as nossas elites deveriam ter vergonha na cara cada vez que
uma operação do Banco Alimentar é
posta em acção.
As nossas elites levam a hipocrisia ao ponto de se vangloriarem, por poder proporcionar aos portugueses a oportunidade de serem caritativos.
ResponderEliminarAbraço
As nossas elites... Só chamar elites a essa gente, como costumo chamar, é de ir às lágrimas, pois não passa de um bando alarve de arrivistas...
EliminarAbraço