A minha crónica semanal no Jornal Torrejano.
Escrever sobre as razões que levam alguém a entrar
numa escola e matar vinte e seis pessoas inocentes, entre as quais vinte
crianças, como aconteceu agora nos Estados Unidos, não passará de uma
especulação inútil sobre a perversidade ou a patologia dos seres
humanos. Certamente que a repetição deste tipo de acontecimentos na
sociedade americana dirá alguma coisa sobre a sua natureza. Mais
interessante de que tudo isso é, contudo, escutar o que nos dizem certos
sectores radicais republicanos, gente ligada ao Tea Party.
Por exemplo, a ex-governadora do Alasca, Sarah Palin, acha que os
cidadãos americanos não devem escutar as elites que pretendem controlar o
uso de armas. Nos momentos de desespero, resta apenas pôr a fé em Deus.
Por seu turno, o ex-candidato a candidato republicano às presidenciais
deste ano, Mike Huckabee, estabelece uma relação entre esta violência
nas escolas e o facto de Deus ter sido retirado dessas mesmas escolas.
Estamos perante visões da realidade absolutamente delirantes. O delírio é
tão grande que o próprio presidente Obama em vez de agir pede sugestões
para enfrentar o problema, numa clara confissão de medo perante o lóbi
dos fabricantes de armas.
Este delírio com que se enfrenta os massacres de inocentes não é
diferente daquele que pretende impedir que qualquer cidadão americano
possa aceder a cuidados mínimos de saúde, ou ao delírio com que, nos
EUA, se tem vindo a destruir as classes médias para proteger, através de
uma legislação conveniente, os mais ricos.
O grande problema para nós, europeus, reside no facto desse
delírio ter sido avidamente importado pelas lideranças europeias.
Durante algumas décadas, talvez devido à experiência traumática de duas
guerras mundiais e à bolchevização, digamos assim, de parte
substancial da Europa, os líderes europeus procuraram afastar visões
delirantes do mundo, tentando encontrar soluções razoáveis que
permitiram construir uma certa harmonia nas diversas sociedades
europeias.
Com o fim do comunismo e a diluição da memória das Grandes
Guerras, as elites políticas europeias americanizaram-se e importaram
doses maciças da mais descabelada fantasia americana. Rimo-nos das Sarah
Palin, dos Mike Huckabee, dos George W. Bush. Mas na verdade deveríamos
chorar lágrimas amargas, pois são os seus émulos europeus que nós
temos, nos últimos tempos, escolhido para nos governarem. Falta-nos
ainda um passo decisivo na loucura, falta-nos chamar Deus para
justificar as atrocidades sofridas ou o longo exercício de injustiça em
vigor, mas já estivemos mais longe. O delírio é uma doença viral.
Sempre é verdade que nada é pior do que um "bom" americano.
ResponderEliminarE o mais grave é que o vírus se vai espalhando...
Boas Festas
Um abraço
Se vai...
EliminarBoas Festas.
Abraço