Gosto da expressão latina ad hoc. Ela
significa literalmente ”para isto”. O uso corrente da expressão refere
um determinado tipo de soluções que, não sendo gerais, se aplicam a um
certo caso particular. O meu interesse pela expressão deve-se a uma
coisa muito simples. Ela caracteriza, infelizmente, demasiado bem a
maneira como se governo o país. Desde há muito que as soluções políticas
encontradas são ad hoc, respostas particulares sem qualquer
pensamento de fundo, sem qualquer visão sobre o futuro do país, aos
problemas que vão surgindo.
Quando a tormenta nos bateu porta, em 2008, na sequência da crise do subprime nos EUA, todas as opções políticas de enfrentamento da crise têm sido soluções ad hoc,
respostas particulares, respostas sem qualquer pensamento estratégico
que permita desenhar um percurso para a saída da situação. Há falta de
dinheiro? Então, faz-se um PEC e corta-se aqui. Continua a haver falta
de dinheiro? Faz-se outro PEC e corta-se ali. Acabam-se com os PEC e
chama-se a troika, mas continua a faltar dinheiro. Qual a solução? Fazem-se mais uns cortes aqui e ali. Tudo isto parece o exercício de amadores.
Mesmo os actuais arroubos ideológicos do governo, uma espécie de espasmo masturbatório ultraliberal, não passam de arroubos ad hoc,
para aproveitar o momento em que toda a gente anda distraída com a
falta de dinheiro e entregar um conjunto de bens públicos à voracidade
de interesses privados. O único pensamento que existe, mesmo neste caso,
é entregar o máximo que se for capaz enquanto se tiver a mão na rédea
do poder. O adhoquismo reinante trouxe o país para a malfadada
situação em que se encontra. Mas como nunca aprendemos nada de
relevante, continuamos com o mesmo tipo de atitude, tentando apenas
sobreviver até ao mês seguinte ou até à próxima avaliação da troika.
Há dois momentos que desenham esta infinita tragédia que nos
acomete. O primeiro é a adesão à CEE e o segundo, a entrada no Euro.
Teriam sido os momentos ideais para não deixar desordenar as finanças
públicas e traçar um rumo viável para um país periférico como o nosso.
Mas Cavaco nunca passou de um demagogo eleitoralista e Guterres nunca
teve rasgo ou coragem para enfrentar a situação. Quando Durão Barroso
grita que o país está de tanga, estávamos já atolados no inferno. Daí
para cá, o descalabro foi aumentando perante a pusilanimidade,
incompetência e desfaçatez de um punhado de agentes políticos
impreparados e sem qualquer sentido de Estado. No fundo, estamos a pagar
duramente por termos entregado o país a gente ad hoc.
O seu último parágrafo é lapidar mas também dramático, porque nos remete para uma questão preocupante tendo em vista o presente e o futuro.
ResponderEliminarSerá que ainda resta gente que não seja "ad hoc", disposta a aceitar "receber" o país?
E, ainda pior, será que os portugueses conseguirão distingui-la da outra?...
Abraço
Talvez este seja o tempo da gente ad hoc. Cada dia que passa avoluma-se a possibilidade de uma tragédia inominável.
EliminarBom fim-de-semana.
Abraço
e cortam-se pessoas, cortam-se famílias, decepam-se futuros, amputam-se sonhos, e promulgam-se compadrios, promovem-se esquemas e instituiem-se atendados à soberania.
ResponderEliminarhoje, estou definitivamente zangada.
Rita, e as coisas ainda irão piorar muito mais... Não sei qual será o limiar, mas será excessivamente baixo.
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