Há um momento em que se dá, em mim, a transição da leitura de
histórias aos quadradinhos (livros de cow-boys)
para histórias em texto corrido. Mais do que as aventuras da Enid Blyton, a
colecção Cow-boy, que apareceu em 1961, ainda antes de eu aprender a ler,
fez essa mediação entre a literatura de raiz popular e as leituras eruditas. A
colecção era composta por livrinhos com 64 páginas, páginas pequenas com
a dimensão de 8,5 x 12,5 cm, e 6 ilustrações. Li dezenas ou centenas, nem sei
bem, de historietas destas, não apenas da colecção referida, como de outras que
apareceram a partir do sucesso desta. Talvez um dia destes fale aqui dessas
colecções.
Estes livros da Cow-Boy
continham histórias do oeste americano, pequenas epopeias marcadas por um
problema fundamental: o da justiça. Havia sempre um cow-boy justiceiro, um bandido malévolo, pessoa influente, por
norma, e uma rapariga que casava com o herói, quando casava, pois este poderia bem
ser um solitário cavaleiro errante. Nem sempre a justiça se casava com o amor,
mas constituíam-se como ideias reguladores que faziam sonhar o leitor no início
da adolescência. Era um mundo simples, o das histórias e o daqueles dias em que
eu as lia. Às vezes, confundimos a simplicidade com a bondade, mas não é a
mesma coisa. Naqueles tempos, não havia professor que não franzisse o sobrolho
se descobria um aluno a ler este tipo de literatura. Eu lia e marcaram-me antes
que Eça, Camus, Kafka, Proust ou os poetas chegassem. Seja como for, eu era
feliz ao ler aqueles livros e isso basta. (averomundo, 2007/08/06, texto refeito)
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