domingo, 12 de julho de 2015

O Portugal do "6 Balas"


Uma das colecções de “livrinhos” de aventuras do oeste editada pela Agência Portuguesa de Revistas era a 6 Balas. Se olharmos para a capa descobrimos uma realidade distinta da dos nossos dias. A referência ao preço mostra um país que acabou há 41 anos. O Continente e o Ultramar. O Ultramar era composto pelas colónias portuguesas de África, mas também por Macau e Timor. Ultramar o que está para além do mar. 

In illo tempore, não era indiferente dizer ultramar português ou colónias portuguesas. O regime de Salazar e Caetano não falava em colónias, mas em ultramar. Vincava a ilusória continuação de Portugal do Minho a Timor. Já a oposição falava em colónias, para sublinhar o carácter colonialista do regime. Ainda hoje se pode detectar a proveniência ideológica do falante pela maneira como se refere ao antigo império português.

Para além da questão política ou mesmo ética, há uma questão estética. Há toda uma experiência estética que nos fala da arquitectura colonial ou do modo de vida colonial. As palavras colónias e ultramar, ainda hoje, contêm em si ressonâncias que fazem vibrar as cordas mais íntimas de muitos europeus. Se nos interrogarmos a causa dessa vibração, depressa chegamos à questão da liberdade. Por muito que os europeus se glorifiquem na sua civilização, esta nunca deixou de ser sentida como uma prisão. Para além dos interesses políticos e económicos, a aventura colonial ou a vida ultramarina nunca deixaram de ser sentidas como a libertação, como uma abertura para uma realidade mais ampla e mais decisiva do que a europeia.

Voltemos ao 6 Balas. Seja como for, colónia ou ultramar, o 6 Balas era distribuído por todo esse mundo. No Ultramar era mais caro, era o custo dos transportes e o preço da periferia. Ultramar ou colónias, Portugal não deixava de ser na Europa, esse lugar da liberdade sentido como prisão. O resto foi uma aventura cheia de equívocos e ilusões, aliás como a generalidade das aventuras coloniais europeias, algumas bem mais sórdidas que a nossa. Uma aventura que, apesar de tudo, não deixou de ser um longo devaneio sobre espaços de liberdade não carcomidos pela ferrugem da civilização. Mas sobre tudo isso ainda se está demasiado perto para que a História possa falar com alguma imparcialidade.

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