Rudolf Lutz - Utopia (1921-22)
Recupero um antigo texto meu,de 2009/02/17, a propósito do início do
julgamento dos hediondos crimes do regime Khmer vermelho, no Cambodja. Não o
faço porque a questão khmer tenha voltado à agenda, mas porque o euro, a ideia
de moeda única no espaço europeu, é uma utopia e traz com ela tudo o que de mal
têm as utopias políticas e sociais.
É muito corrente contrapor às perversões ideológicas, de
direita ou de esquerda, a bondade da utopia. A sociedade e a política não podem, porém, ser objecto de utopias. Porquê? Porque a utopia é tudo menos uma coisa bondosa.
O que significa a utopia? Significa que a imaginação se libertou da experiência
sensível e dos ditames da razão. Um delírio apossa-se das pessoas e aquilo que
é apenas uma imagem irreal pode tornar-se realidade. Como a experiência e a
razão estão postas entre parêntesis, a imaginação determina a vontade na
acção.
Sem qualquer imperativo moral que a coaja, a vontade é agora um
veículo perfeito do delírio utópico. Facilmente se percebe como tudo isso se
torna num empilhamento infinito de cadáveres. Se a realidade resiste, isto é,
as pessoas, então a força fará o que tem a fazer. A palavra utopia, que a
tantos corações generosos inflama, é apenas, ao nível social e político, a
senha para o crime generalizado.
Isto foi escrito sobre o regime khmer vermelho, mas é a isto que
estamos a assistir, ainda que de forma mais subtil, na civilizada Europa, de
onde a democracia, para além do ritual formal, desapareceu arrastada pelo
vendaval utópico. Sabemos todos, agora, que se a resistência à utopia monetária
sobe, a subtileza desaparece de imediato. Falta-nos a experiência final. Se
mesmo assim ainda houver alguém que resista, serão enviados, como nos tempos da
União Soviética, os tanques?
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