Joan Hernández Pijoan - Acotació 0-81-162-243 (1974)
O pontão entra uma dúzia de metros lago adentro. Assenta em pilares de
cimento que, depois de rasgar a água dócil e transparente, penetram vigorosos
na terra. Na parte final, de cada um dos lados, erguem-se três colunas de
madeira, nas quais estão presas bóias de salvamento. Chove sobre o silêncio,
uma chuva fina, caída de nuvens baixas, tão baixas que, sobre elas, se olhado
de longe, se avista o cume dos montes, de dimensões insignificantes, que ladeiam
as margens opostas. No sopé de um deles, uma aldeia parece adormecida, talvez
embalada pelo ronronar do chuvisco, amarrada à brancura das paredes, impotente
para se libertar do encantamento que sobre ela cai. Também o lago, apesar da
chuva e da névoa, está contaminado pela imobilidade. As próprias árvores das
margens não bolem, hirtas como sentinelas no posto de guarda. De súbito, um
ruído longínquo. De um pequeno cais da aldeia, um barco com motor fora de borda
é posto a trabalhar, para de seguida começar a deslizar, com lentidão, deixando
uma pequena esteira que logo é tragada pelo desejo de imobilidade das águas.
Avança muito devagar até meio do lago e depois flecte para esquerda, desenhando
uma curva larga, e dirige-se para o pontão. Quando se aproxima, o motor é
desligado, e a embarcação resvala na água, perdendo a pouca velocidade que
trazia, até parar junto a um dos postes. Um homem, de gabardina, amarra o barco,
depois sobe, com um salto vigoroso, para o pontão e estende a mão à mulher que
o acompanha. Esta aceita a mão e sai, sem esforço, quase graciosa, do barco. Olham-se
silenciosos, tornam a dar a mão um ao outro e viram-se para terra. Os seus
passos no chão de metal ressoam na imobilidade do dia. Depois, ao chegarem a
terra, o silêncio retorna triunfante. Eles voltam a olhar-se, sem pressa e sem
desprender as mãos, ensaiam novos passos, chegam às primeiras árvores, ainda
hirtas, e perdem-se na floresta.
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