Símon Bolivar
Percebe-se que governo e oposição tratem com delicadeza a
questão venezuelana. São muitos os emigrantes portugueses e os luso-descendentes
nesse país. Do ponto de vista do debate de ideias à esquerda, a questão
venezuelana é um elemento de demarcação. Desde o início e por muito que seja
verdade que Hugo Chávez ganhou os processos eleitorais e plebiscitários em que
participou, a chamada revolução bolivariana tinha todos os ingredientes para se
tornar numa tragédia mascarada de farsa, como o é agora (ver aqui). Pode ser cómodo culpar os inimigos do costume – isto é, o
imperialismo americano –, mas todo o processo estava inquinado desde o início.
Populismo, caudilhismo militar, voluntarismo, culto da democracia popular e
pouco interesse pelos aspectos formais da democracia representativa. Isto era
mais que suficiente para indicar que o que se estava a passar, apesar de alguns
resultados interessantes, estava longe de representar um efectivo movimento de
emancipação das pessoas. Caminhava-se, enquanto houvesse petróleo caro, para um
assistencialismo de esquerda. As tentações assistencialistas, muitas vezes
disfarçadas como direitos sociais, têm como consequência tornar os
pobres dependentes do poder. Uma política de esquerda no século XXI deve visar
a que os indivíduos desenvolvam a sua autonomia e a sua capacidade de gerirem por
si mesmos a sua vida e não a promover utopias revolucionárias que se tornam, de
imediato, em caridade de Estado e uma ameaça para a liberdade. Desde o início
que a chamada revolução bolivariana foi um equívoco. E este equívoco
transformou-se com o tempo numa tragédia.
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