Adelino Lyon de Castro - Sem destino, Portugal, 1980
Ao cruzarmos a fotografia, a data e o título que lhe foi dada pelo fotógrafo, podemos ser tentados a ver nela uma metáfora sobre o destino - ou a sua ausência - de Portugal na transição da década de setenta para a de oitenta do século XX. As tentações nem sempre são boas conselheiras. Aquilo que vemos - ou que nos é dado a ver, o que não é bem a mesma coisa - é o outro lado da realidade portuguesa, não de 1980, mas de Portugal ao longo da sua história. Uma parte do país parece, muitas vezes, brilhante, de aspecto triunfal, tendo um caminho e um destino, mas isso é só parte da realidade. Existe a outra parte, aquela que a fotografia retrata, que, nos momentos mais inesperados, se manifesta estrondosamente, para depois, se ocultar silenciosa, até que uma qualquer câmara escondida - isto é, uma tragédia, uma crise financeira, etc. - a torna a trazer para o primeiro plano. Se não nos deixarmos iludir pela exaltação da retórica política, talvez descubramos que este sem destino é ainda um momento constitutivo do nosso próprio destino. Aquilo que somos enquanto comunidade faz-se no convívio e no conflito com a ameaça perpétua de perder a nossa destinação. Se eliminássemos esta parte ameaçadora, sempre presente, o mais provável seria deixarmos de ser o que somos. O mais provável é que possamos ir transformando, lutando contra ela, essa ameaça arcaica que nos constitui, mas não esteja nas nossas possibilidades eliminá-la. Ela mostra-nos a efemeridade das coisas e a nossa fragilidade. Dá-nos, desse modo, um saber. E é este saber que nos tem ajudado a sobreviver enquanto comunidade, contra todas as probabilidades, há quase nove séculos.
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