Toni Schneiders - Fykesunds bru im Hardanger Fjord, 1959
A espécie humana é muito cansativa na sua previsibilidade.
Basta dar um pouco de atenção a uma determinada personagem para que, sem grande
surpresa, se consiga antecipar comportamentos. Fundamentalmente, os que são
negativos. É preciso um certo refinamento para dissimular com eficiência o
desejo de praticar o mal. E refinamento é coisa que está ao alcance de poucos. Para
certas pessoas, a ânsia da maldade é tão grande que não conseguem deixar de
semear sinais e pistas por todo o lado. E o mais interessante é que o fazem com
uma infantilidade quase comovente. O que não é de todo um prejuízo para os
outros. Seria bem mais grave que à propensão para o mal se aliasse a maturidade.
Por norma, essas pequenas personagens maldosas que cirandam por aí são
imaturas, uma espécie de crianças perdidas num mundo cheio de ameaças
imaginárias, ameaças nascidas da sua incapacidade de crescer e tornar-se
adulto. Ora a quantidade de adultos que, na verdade, nunca cresceram é
desanimadoramente muito maior do que se pode pensar. A ideia kantiana de que o
Iluminismo é a saída do Homem da menoridade choca com essa realidade. Nem as
mais intensas luzes da razão têm o poder de fazer amadurecer parte
significativa do género humano, de fazê-la atravessar a ponte que liga a infância
ao estado adulto.
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