Vivemos num estranho país. Num país menos estranho do que o nosso,
seria normal que as gentes de esquerda quisessem ver publicados os rankings escolares e as gentes de
direita – pelo menos, aquela que tem os descendentes nos colégios privados que
ocupam os primeiros lugares dos rankings – quisessem que eles não fossem
publicados. Mas não é assim. As gentes de esquerda, por norma, odeiam ou, pelo
menos, desprezam os rankings,
enquanto a direita social gosta deles. Por que motivo, perguntará o leitor, a direita
deveria querer ocultar os rankings e
a esquerda deveria querê-los públicos?
Relativamente à direita social, a resposta é fácil. Esta não tem
qualquer interesse em que se saiba claramente as vantagens que os seus
descendentes têm no acesso à Universidade, às melhores Universidades. Quanto
menor for a concorrência, quanto menor for a igualdade de oportunidades, quanto
maior for o fosso entre os resultados do ensino público e os dos grandes
colégios privados e quanto mais secreto for esse fosso melhor. Os descendentes
estarão mais à vontade no acesso aos cursos que pretendem, àqueles que abrem às
pessoas as melhores oportunidades. Para essa direita, o melhor seria não haver rankings e que ninguém soubesse o
desempenho da escola pública.
Relativamente à esquerda social (e política, diga-se) o problema é
mais complicado. Por norma, é contra os rankings
porque estes hierarquizam as escolas. Um dos argumentos que mais se ouve é que
os rankings não avaliam as escolas
como deve ser. Este argumento, porém, é uma falácia do espantalho. Os rankings não pretendem avaliar escolas
ou professores. Os rankings apenas
tornam patente os resultados dos alunos organizados por estabelecimento de
ensino. Um segundo argumento diz que os rankings
comparam o incomparável. Este argumento é pura e simplesmente falso. O que está
a ser comparado são os resultados dos alunos e esses são comparáveis. Mais, a
diferença desses resultados tem consequências para o destino de cada um dos
alunos.
Por que motivo a esquerda deveria gostar dos rankings? Pelo facto de eles mostrarem como está a saúde das
políticas de igualdade de oportunidades. Se os rankings avaliam alguma coisa é o trabalho do sistema educativo na
promoção real – e não apenas proclamatória e virtual – da igualdade de
oportunidades. Quando os rankings
mostram que certas escolas públicas, mas também privadas, apresentam resultados
maus ou medíocres está a mostrar-nos que o sistema – tanto a nível central como
local – está a falhar no desígnio de assegurar a todos os alunos um acesso
semelhante a um bem que é a educação, onde se inclui o acesso à educação
superior. A esquerda prefere que isto não se saiba? Que se disfarce?
A esquerda deveria preocupar-se em assegurar condições para que o
fosso dos resultados desaparecesse, para que os rankings passassem a mostrar que os alunos pobres e/ou do interior
têm as mesmas possibilidades reais – e não meramente virtuais – que os filhos das
elites que frequentam os grandes colégios. A esquerda, se estivesse preocupada
com os filhos dos seus potenciais eleitores, em vez de esconder a mensagem e
tentar matar o mensageiro (os rankings),
deveria exigir discriminação positiva eficaz no apoio às escolas em
dificuldades e reivindicar condições para um ensino rigoroso e de qualidade em
todo o sistema público. Parece, contudo, que a esquerda gosta mais dos seus
preconceitos ideológicos (ainda por cima incongruentes) do que das pessoas
reais. Infelizmente.
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