Este artigo de Rui Tavares põe correctamente o dedo na ferida. O que se passa no futebol não é já uma questão de futebol mas de desagregação dos valores fundamentais de um Estado democrático. Se houve um tempo em que esse desporto poderia ser visto como um jogo de cavalheiros, no qual o fair-play tinha um lugar central, isso acabou há muito. As paixões clubistas tornaram o fair play uma miragem e não há campeonato em que o vencedor não esteja sob suspeita de favorecimento e parcialidade dos árbitros. Os dirigentes desportivos, muitas vezes, dão a impressão de serem condottieri de bandos de gente fora de lei, incendiando paixões e acicatando o ódio das seitas adversárias. A isto há que juntar o clima que os programas de comentário futebolístico criam, nos quais as regras da educação, do respeito mútuo e da conduta sensata são vilipendiadas. O futebol de alta competição tornou-se assim um sítio mal frequentado e com muitos poucas possibilidades de remissão.
O futebol, nos dias de hoje, é, por outro lado, uma actividade económica, onde se movem muitos milhões de euros, mesmo num país como o nosso. O cruzamento da actividade económica com a paixão clubista não gera uma mera indústria de entretenimento como o é o cinema. O carácter competitivo dá a essa junção entre economia e paixão irracional uma tonalidade que aproxima o futebol de um clima de quase pré-guerra civil. Não por acaso, as instituições sentem grande dificuldade em lidar com esse mundo, onde o mercado das emoções parece completamente desregulado e os confrontos entre adeptos recordam o estado de natureza hobbesiano. E o pior é que o futebol pode ser visto já como a expressão daquilo que rumina surdamente numa sociedade. A ligação entre paixão clubista e irracionalidade sempre existiu. Contudo, é possível que tenha mudado de natureza. Anteriormente, a paixão clubista era um escape, uma sublimação dos sentimentos e emoções negativos que há em todos nós. Hoje em dia pode ser bem mais do que isso. Pode ser a expressão do desejo de trazer para o espaço público a vontade do conflito e a necessidade de aniquilar o inimigo. Uma sociedade que permite um futebol como o nosso - que não será diferente do de outros países - não é, por certo, uma sociedade saudável. Pelo contrário, está doente, muito doente.
O futebol, nos dias de hoje, é, por outro lado, uma actividade económica, onde se movem muitos milhões de euros, mesmo num país como o nosso. O cruzamento da actividade económica com a paixão clubista não gera uma mera indústria de entretenimento como o é o cinema. O carácter competitivo dá a essa junção entre economia e paixão irracional uma tonalidade que aproxima o futebol de um clima de quase pré-guerra civil. Não por acaso, as instituições sentem grande dificuldade em lidar com esse mundo, onde o mercado das emoções parece completamente desregulado e os confrontos entre adeptos recordam o estado de natureza hobbesiano. E o pior é que o futebol pode ser visto já como a expressão daquilo que rumina surdamente numa sociedade. A ligação entre paixão clubista e irracionalidade sempre existiu. Contudo, é possível que tenha mudado de natureza. Anteriormente, a paixão clubista era um escape, uma sublimação dos sentimentos e emoções negativos que há em todos nós. Hoje em dia pode ser bem mais do que isso. Pode ser a expressão do desejo de trazer para o espaço público a vontade do conflito e a necessidade de aniquilar o inimigo. Uma sociedade que permite um futebol como o nosso - que não será diferente do de outros países - não é, por certo, uma sociedade saudável. Pelo contrário, está doente, muito doente.
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