sábado, 9 de março de 2019

Brasil, China, Entre-os-Rios e Novo Banco


1. A doença do Brasil. Apesar de sermos latinos e de permitirmos coisas inaceitáveis nos países do centro e do norte da Europa, ainda é difícil para os portugueses compreender a doença que ataca com virulência inusitada o Brasil. Essa doença tonou-se, mais uma vez, visível com a morte do neto do ex-presidente Lula da Silva, uma criança de sete. O ódio e a falta de humanidade que perpassou pelas redes sociais ultrapassa aquilo que é compreensível na Europa. E, sejamos claros, nada disso tem a ver com Lula da Silva ter sido, eventualmente, corrupto. Esses mesmos brasileiros convivem muito bem com políticos mais claramente corruptos e sobre os quais não recai o ódio que é endossado a Lula da Silva. Uma doença.

2. António Costa e a China. O primeiro-ministro português está preocupado com uma eventual onda europeia proteccionista relativamente à China. Argumenta que Portugal tem tido uma boa experiência com o investimento chinês. Ora é o investimento chinês que preocupa alguns governos europeus. O assunto é particularmente sensível. Trata-se de conjugar dois tipos de intencionalidades. Por um lado, a União Europeia tem advogado o comércio livre. Por outro, os líderes europeus começam a preocupar-se com a desnacionalização da economia e a perda de controlo nacional de sectores chaves. Afinal, parece haver um limite, até na União Europeia, para a sobreposição da economia à política. Até porque isso não existe na China, onde o investimento no estrangeiro é um acto geopolítico do Estado chinês e do Partido Comunista, mesmo que António Costa, como aconteceu com Passos Coelho, finja não perceber.

3. Os dezoito anos da queda da ponte de Entre-os-Rios. Passados dezoito anos da tragédia de Entre-os-Rios, onde morreram 59 pessoas, terá o país aprendido alguma coisa? Certamente que houve incremento nas vistorias. Também é verdade que nenhum país é capaz de garantir uma vida absolutamente segura aos seus cidadãos. Dito isto, os casos dos incêndios do ano de 2017 e a derrocada de uma pedreira na estrada de Borba – Vila Viçosa, em 2018, parecem indiciar que a atitude que conduziu ao acidente de Entre-os-Rios continua disseminada país fora. Não é apenas uma questão política, mas também o é.

4. Novo Banco. Começa a ser cansativo. Depois da Caixa, é agora o Novo Banco a pedir dinheiro ao Estado. O desenvolvimento do país foi sequestrado pela banca nacional. Esta que deveria fornecer recursos financeiros ao desenvolvimento da economia, e com isso ganhar dinheiro, parece ter por finalidade viver à conta de contribuintes generosos e pacíficos.

[A minha crónica no Jornal Torrejano]

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