Pier Luigi Lavagnino, Grande Albero, 1969
Refulgem os traços brancos e contínuos que previnem a aproximação às
bermas, refulge o tracejado separador das vias. Da brancura imaculada daquelas
linhas, ergue-se uma aura ou uma alma em direcção aos céus. Um carro passa lentamente,
como se o seu condutor quisesse com os olhos beber a paisagem, fixá-la no fundo
de si para, mais tarde, a poder desenhar ou transformá-la no lugar onde há-de
ocorrer um crime, daqueles que só um detective de romances policiais pode
desvendar. Logo passa outro carro, mas o homem mais do que para a estrada tem
olhos para a mulher que, ao volante, o acompanha com um sorriso nos lábios e um
halo de esperança no rosto. O abandono e a solidão voltam e envolvem a floresta
que rodeia o alcatrão, uma mata de ciprestes, presos à terra e ao verde que
lhes envolve os ramos. Sobre as árvores, a névoa translúcida deixa-se penetrar
pelos raios de luz que o sol, tímido, infeliz, quase agoirento, permite escaparem,
transformando o horizonte no esquisso de um velho castelo assombrado. Um
ciclista passa rápido, entregue à vertigem sibilante da descida, envolto num
equipamento garrido, que o há-de roubar à invisibilidade e dar-lhe a segurança
que precisa para chegar à sua meta, num final feliz e obscuro. A névoa
adensa-se, cerra o horizonte numa treva de pez, e os ciprestes escurecem em
pleno dia. Ouve-se o uivo de um lobo e o ribombar de um trovão ou o eco de um
tiro. A montanha logo se silencia e a estrada abre-se num convite ao viajante
apressado e sem destino.
Muito bom. Como sempre.
ResponderEliminarAbraço
Muito obrigado.
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