Gerardo Rueda, Bardala, 1961 |
O céu tinha desaparecido tragado por nuvens cada vez mais espessas
de fumo. Das chaminés, pintadas de branco e vermelho, saíam
baforadas contínuas onde o cinza suave e o chumbo pesado se
misturavam para deixar um rasto de tristeza no horizonte. Dentro das
grandes fábricas haveria, por certo, pessoas, muitas pessoas, mas
fora delas não se via ninguém, como se todos tivessem sido
capturados por um inimigo feroz ou alguma feiticeira irascível as
houvesse enfeitiçado para as fazer desaparecer. Ao redor dos grandes
edifícios o deserto progredia. Há muito que as plantas se tinham
recusado a crescer ali. Também os animais, temendo o que se escondia
sob a capa volátil do odor, teriam emigrado. Quem chegasse ao nosso
planeta naquele instante e nada soubesse sobre ele, não imaginaria,
ao ver o fluir do fumo, que ali se temperava o ferro para se
transformar em aço. Olhasse-se para que lado se olhasse, a sensação
era sempre a mesma. Uma viva opressão nascida das inúmeras
fábricas, que nunca se cansavam de expelir fumarolas, pequenos
vulcões ameaçadores. Por vezes, ouviam-se sirenes. Outras, passavam
grandes camiões carregados. O que nunca parava, porém, era a
azáfama no interior dos grandes edifícios. Os olhos procuravam uma
ou outra mancha de verde, mas nunca a encontravam e perdiam-se num
mundo de cinzas e desolação.
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