sábado, 5 de junho de 2021

Os ingleses, o PSD, o Brasil e a senhora Merkel


A invasão inglesa. Depois da impotência no controlo nos festejos dos adeptos sportinguistas, tivemos agora direito à invasão inglesa, motivada também pelo futebol. Adeptos do Chelsea e do Manchester City acharam por bem eximir-se ao cumprimento das regras a que os cafres estão sujeitos. As autoridades, por seu turno, decidiram apostar na falta de comparência. Não me refiro à polícia, claro. Refiro-me aos responsáveis políticos. Talvez tenham tido medo de pôr em causa a mais velha aliança do mundo ou então recearam um novo ultimato inglês. Se foi um destes casos, só podemos louvar o talento político do Ministro da Administração Interna, caso tenhamos um.

A zanga do PSD. Decorreu mais um congresso do Chega, um partido político dirigido por um candidato a pastor evangélico. Consta que o espectáculo não foi edificante. O mais notável foi a zanga do PSD. Durante os dias de congresso, o PSD e Rui Rio foram bombos da festa. Como quem não se sente não é filho de boa gente, o PSD sentiu-se, zangou-se e não foi ao encerramento do congresso. Ora, o PSD anda tão embevecido com a nova maravilha que ainda não notou que o grande inimigo do Chega é o próprio PSD. O partido de Ventura não tem qualquer capacidade para penetrar no eleitorado de esquerda. Como o CDS é uma sombra fantasmática do que foi, resta ao Chega tentar devorar o PSD, para liquidar a direita democrática. Costa ri seráfico, mas o riso de Costa é tão idiota quanto a normalização do Chega empreendida pelo PSD.

Talvez esteja a acordar. Refiro-me ao Brasil. Depois de terem eleito Bolsonaro, um político completamente impreparado e que vive num universo paralelo, dominado pelas mais extraordinárias fantasias, os brasileiros começam a perceber o preço da brincadeira. A gestão da pandemia é apenas o caso mais notório de um descalabro com consequências nacionais e internacionais, devido ao peso que o Brasil tem no mundo, bem como a floresta da Amazónia, uma das vítimas do bolsonarismo.

Um problema para a Europa. Em breve, Angela Merkel abandonará o cargo de Chanceler. De todos os políticos democráticos do mundo ocidental, ela é a mais consistente, a mais estruturada, mas também a mais humilde e sóbria. Ela é, por outro lado, um exemplo de líder que acredita nos valores democráticos. Nunca tergiversou sobre eles, nunca se aliou com o diabo – isto é, a extrema-direita – por uma questão de poder. Nunca abandonou os princípios, mesmo quando isso poderia ter consequências para o seu poder. Aqueles que acreditam na democracia liberal e no projecto europeu vão ter muitas saudades da senhora Merkel.

2 comentários:

  1. eu não sei bem como cheguei até aqui, mas vou ficar.
    Gosto de tudo, mas acima de tudo, de haver quem ainda escreva em Blogs.
    Talvez eu volte aos meus.
    Obrigada pela variedade e pelos textos tão pertinentes.

    ResponderEliminar
    Respostas
    1. Eu é que fico grato, e bem vinda. É verdade, escrever em blogues tornou-se anacrónico, mas ainda é um sítio que permite escrever textos que sejam textos.

      Eliminar

Nota: só um membro deste blogue pode publicar um comentário.