Albert Bloch, Suicide, 1911 |
segunda-feira, 28 de fevereiro de 2022
Pulsão suicidária
sábado, 26 de fevereiro de 2022
Um tempo de Requiem
Arnulf Rainer, Croce, 1956 |
quarta-feira, 23 de fevereiro de 2022
A Garrafa Vazia 79
Gárgula do Mosteiro da Batalha (Origem da Foto: Coisas do Arco da Velha - Museu do Imaginário) |
segunda-feira, 21 de fevereiro de 2022
O progresso moral da humanidade (5)
Alexey Titarenko, Crowd 2, St. Petersburg, Russia, 1993 |
sábado, 19 de fevereiro de 2022
A questão central da política
O que motivará a cegueira e a surdez tanto dos cidadãos como dos responsáveis políticos? Há, claro, razões económicas, socias e psicológicas, as quais, por norma, são arroladas como causa da incapacidade em lidar com a ameaça. Contudo, o problema tem uma natureza política e reside no esquecimento daquilo que nos torna animais políticos e, consequentemente, aquilo que a política deve, antes de tudo, cuidar. O que está em jogo na política, como sublinhou Hannah Arendt na leitura que fez dos gregos, é a imortalidade da espécie humana. Não se trata de uma imortalidade metafísica, mas da prosaica persistência da espécie ao cimo deste planeta. A política existe, em primeiro lugar, porque a espécie humana está, continuamente, em vias de extinção. A política é o antídoto a essa ameaça.
A modernidade, a partir de certa altura, esqueceu essa função originária da política. Embrenhou-se nos debates entre liberdade e igualdade, entre tradição e inovação, entre conservar e progredir. Tudo querelas interessantes, mas que não tocam no problema com que a espécie, neste momento, se confronta: como assegurar a sua imortalidade, isto é, a sua persistência na Terra, agora que, mais que nunca, somos, por culpa própria, uma espécie em vias de extinção? Ora, recentrar a política na questão fundamental é, nos tempos que correm, uma tarefa de Hércules. Como poderemos admitir que, para sobrevivermos enquanto espécie, teremos de nos tornar drasticamente mais pobres, eliminar muitos dos nossos prazeres, compreender que a natureza não é um armazém à nossa disposição? Aqui enfrentamos o maior dos perigos, pois ninguém com um programa adequado à realidade, prometendo empobrecimento e frugalidade, consegue ganhar eleições, e, mergulhados no esquecimento da função originária da política, não se vislumbra tratamento para a surdez e para a cegueira que nos atingem.
quinta-feira, 17 de fevereiro de 2022
A persistência da memória (8)
Sebastião Salgado, Guatemala, 1978 |
terça-feira, 15 de fevereiro de 2022
Nocturnos 73
domingo, 13 de fevereiro de 2022
Simulacros e simulações (31)
domingo, 6 de fevereiro de 2022
A Garrafa Vazia 78
sexta-feira, 4 de fevereiro de 2022
A maioria absoluta e a situação da esquerda
A maioria
absoluta obtida pelo PS confirmou o instinto político de António Costa. Não
cedeu às exigências do BE e do PCP e não hesitou em correr riscos. Na sua
vitória confluem o reconhecimento pela governação e pelo combate à pandemia, a
necessidade de estabilidade, o cansaço com o tom do BE e com a incapacidade do
PCP alterar o seu tipo de discurso e, não menos importante, o medo de um
governo do PSD dependente do apoio do Chega e da Iniciativa Liberal. Em resumo,
derrotou os seus ex-parceiros, a direita e, de passagem, Marcelo Rebelo de
Sousa. Tem quatro anos para mostrar, definitivamente, que, para além de um
óptimo político, é um óptimo primeiro-ministro, com capacidade para fazer sair
o país do impasse em que se encontra.
Foi penoso assistir à declaração de Jerónimo de Sousa. Falou para os seus, entregou-se a uma interpretação esotérica dos resultados eleitorais e da situação política. Foi incapaz de assumir o erro de votar contra o orçamento. Também não mostrou que o partido tenha capacidade de rasgar horizontes para além da retórica habitual sobre os trabalhadores e o povo. Na verdade, o PCP não tem qualquer projecto para governar o país na situação onde este se encontra: pertença à União Europeia, ao Euro e abertura de mercados num mundo globalizado de elevada concorrência. Os portugueses reconheceram isso, retirando-lhe votos e representantes, entre eles o excelente deputado António Filipe.
Não menos penoso foi assistir ao discurso de Catarina Martins. Acusou António Costa de querer uma maioria absoluta e não foi capaz de reconhecer que o BE cometeu um erro estratégico ao chumbar o orçamento. O BE não percebeu que grande parte do seu eleitorado vinha do PS e que votaria no BE apenas se não houvesse perigo. Problema ainda maior é que o Bloco mostrou que não serve para encontrar soluções para o país, não tendo aproveitado a abertura dos socialistas para se transformar num partido de poder credível. Por outro lado, a liderança de Catarina Martins e o estilo que adoptou estão desgastados. Fora dos fiéis, começa a haver pouca paciência para a líder do BE.
Por fim, os ecologistas de esquerda. A ficção de “Os Verdes”, com a sua submissão ao PCP, parece ter acabado. Não deixam saudades nem, tão pouco, uma marca no país. A eleição de Rui Tavares, do Livre, depois do erro de casting de 2019, com Joacine Katar Moreira, pode marcar o início de uma reconfiguração da esquerda à esquerda do PS. Apesar do líder do Livre ter entoado a Internacional, na noite das eleições, não há nele traço de radicalismo, é um político muito bem preparado, sensato e europeísta. É, se não cometer erros, uma ameaça para o BE.
quarta-feira, 2 de fevereiro de 2022
Ciência e pensamento crítico
Uma das formas mais insidiosas de superstição é aquela que se baseia num suposto pensamento crítico ou no direito de pensar por si mesmo, numa espécie de afirmação à outrance do lema kantiano ‘Pensar sempre por si mesmo’. A estratégia é colocar em pé de igualdade uma forma de conhecimento altamente estruturada, obedecendo a rigorosos protocolos de controlo, testagem e avaliação, isto é, a Ciência, com opiniões e conjecturas que não têm qualquer controlo. Aliás, nem se trata de colocar em pé de igualdade Ciência e estas opiniões. Pretende-se mesmo julgar a Ciência com base nessas opiniões, como se isso fosse uma atitude crítica altamente inteligente.
Não temos o dever de pensar por nós próprios? Temos, mas pensar por si próprio, de modo responsável, é avaliar, com base num método rigoroso, aquilo que nos é proposto. Isso, dir-se-á, levanta um enorme problema. Por exemplo, como posso avaliar se devo ou não ser vacinado contra a COVID-19? Não tenho conhecimento para fazer uma avaliação crítica da vacinação. Como eu está mais de 99% da humanidade. A única coisa que podemos fazer, para pensar criticamente, é confiar na autoridade científica dos cientistas. Não se trata, porém, de uma aceitação cega de uma autoridade. Há regras para aceitar argumentos de autoridade. São essas regras que permitem adoptar uma atitude crítica sobre certo assunto que não dominamos.
Só devemos aceitar um argumento de autoridade se aqueles que o propõem são efectivamente autoridades no assunto, se não existirem contra-exemplos credíveis que ponham em causa o que a autoridade afirma e se existir um forte consenso científico sobre esse assunto, por exemplo, sobre o benefício da vacinação. Ora, quando as pessoas, em nome de um suposto pensamento crítico e de um direito a pensar por si, rejeitam os resultados da Ciência, não estão a pensar criticamente. Estão a submeter-se à autoridade de pessoas que não dominam os assuntos, que emitem opiniões que ninguém controla nem avalia. Estão a trocar o conselho de autoridades competentes por crenças sem qualquer fundamento. Escolhem a superstição e não o pensamento crítico.