O abalo não foi menor na Revolução Francesa, 34 anos depois. A ordem política instalada cai como caiu parte substancial da cidade de Lisboa. Uma das reacções mais interessantes foi a do mais encarniçado inimigo da Revolução, o conde Joseph de Maistre. O interesse da sua reacção advém de ela combinar uma mistura de teologia e de naturalismo. A Revolução seria um castigo de Deus por os franceses se terem pervertido nas águas do Iluminismo. Contudo, as forças desencadeadas pelo acontecimento, a partir de certa altura, já não são conduzidas pelos homens, diz Maistre. Pelo contrário, é a Revolução que conduz e utiliza os homens no seu afã destrutivo. A Revolução é vista como uma força da natureza que, tal como aconteceu no Terramoto de Lisboa, destrói aquilo por onde passa. Esta naturalização das forças desencadeadas pelo homem tornou-se um modelo interpretativo que contínua activo.
Observem-se as alterações climáticas, a forma como os seres humanos as desencadearam, tal como desencadearam a Revolução Francesa. Apesar dos alertas institucionais e do esforço militante, paulatinamente, na consciência do homem comum, instala-se uma muda convicção. Perante o que está a acontecer podemos fazer tanto quanto puderam fazer as vítimas do sismo de 1755. Já não se pensa, como pensou Maistre, em castigo divino, mas como ele naturaliza-se aquilo que teve origem nas decisões e acções humanas. O que podemos fazer perante uma natureza que se está a tornar, a cada dia, mais hostil? Nada, é a resposta que se dá no segredo da consciência. A natureza é omnipotente, mas não sumamente boa, tal como o Terramoto de Lisboa mostrou. Isto é uma desresponsabilização perante a necessidade de alterar o estilo de vida, e essa desresponsabilização decorre da naturalização das acções humanas. Terá um corolário darwinista: os mais adaptados às novas circunstâncias sobreviverão, os outros perecerão.
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